Astronauta fora da nave
1 de junho, 2011 às 7:09 | Postado em Astronomia, Forças inerciais, Gravitação, Mecânica
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Imagine um astronauta na seguinte situação: Um astronauta está lá no espaço fazendo uma manutenção num satélite e tal, então ele fica flutuando. Por que ele não cai e se cai aonde ele ia parar?
Pergunta originalmente feita em: http://br.answers.yahoo.com/question/
Em primeiro lugar é importante destacar que todas as experiências reais com astronautas ocorreram em regiões onde havia não desprezíveis campos gravitacionais da Terra, do Sol e da Lua. Portanto o astronauta e a nave estavam acelerados devido à atração que ambos sofrem por parte da Terra, do Sol e da Lua. Ambos estão submetidos ao mesmo campo gravitacional resultante naquela região (desprezando-se pequenos efeitos diferenciais notados mais adiante).
Há também uma força de interação gravitacional entre o astronauta e nave mas esta é muitas ordens de grandeza menor do que a força que o astronauta sofre por parte da Terra, do Sol, … e podemos portanto, com excelente aproximação, desconsiderá-la.
Vou agora considerar que o astronauta e nave estão nas proximidades da Terra, tal como acontece na Estação Espacial Internacional (ISS), onde prepondera o campo gravitacional da Terra sobre os demais e o arrasto da rarefeita atmosfera ali existente pode ser desprezado (o efeito da atmosfera rarefeita está discutido em Paradoxal efeito do arrasto no movimento de um satélite).
Ambos, nave e astronauta, então possuem (quase) a mesma aceleração da gravidade, que está dirigida para a Terra e é responsável por manter ambos, astronauta e nave “caindo” constantemente em direção à Terra, isto é, mantendo a órbita em torno da Terra. Desta forma o astronauta pode permanecer em repouso em relação à nave (mesmo que não exista uma ligação material, como por exemplo um cabo, entre o astronauta e a nave) já que a aceleração relativa do astronauta em relação à nave ou da nave em relação ao astronauta é nula portanto. É interessante notar que a situação é a mesma se o astronauta estiver localizado dentro da nave.
O movimento relativo astronauta-nave portanto independe do campo gravitacional resultante da Terra, do Sol, … que (quase) igualmente acelera os dois.
De fato existem pequenos efeitos diferenciais em ambos (por isto usei a palavra quase entre parênteses no parágrafo anterior), tão pequenos que podemos ignorar usualmente, associados a forças de maré da Terra, do Sol e da Lua sobre ambos (vide mais detalhes nos endereços abaixo citados).
Entretanto, se de alguma forma o astronauta estiver em movimento em relação à nave (por exemplo, ele se impulsionou para fora da nave), esta velocidade relativa será conservada (enquanto a distância entre eles não crescer muito para que ambos já estejam submetidos a diferentes campos gravitacionais de Terra) e ele poderá se afastar (ou se aproximar) da nave. Para prevenir tal possibilidade é conveniente que o astronauta esteja ligado por um cabo à nave pois então o cabo impedirá que ele se afaste indefinidamente da nave.
Finalmente, é importante destacar que o eventual movimento acelerado do astronauta em relação à nave NÃO depende da Terra, ou Sol, ou da Lua (que, conforme destacado antes, aceleram igualmente a ambos), dependendo apenas de alguma outra ação, por exemplo, um empurrão para fora da nave ou algum sistema de propulsão no traje do astronauta. Vide mais detalhes em Unidade de propulsão do astronauta.
Adicionado em 08/07/2020. Aqui um depoimento do astronauta Clayton C. Anderson: Astronauta fora da ISS.
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Interessante a explicação!
Relembrando o caso ilustrado pela foto mostrada na postagem, em que temos o astronauta Bruce McCandless II, primeiro homem a “caminhar” no espaço, estreando o MMU (Manned Maneuvering Unit), gostaria de levantar uma questão.
Segundo a NASA, o relato é de que ele teria “caminhado” aproximadamente 100 m distante do ônibus espacial, a partir disso me veio a dúvida, como seria possível o MMU impulsionar Bruce de volta para o ônibus espacial, já que segundo as informações este traje alcança 25 m/s e o ônibus espacial em órbita está a aproximadamente 7660 m/s?
Mesmo que seja levada em consideração a velocidade inicial de Bruce, que nesse caso é a mesma do ônibus espacial, após ele se distanciar do ônibus espacial, ele estaria perdendo velocidade em relação ao mesmo, já que os corpos se distanciam em sentidos opostos, sendo assim a velocidade de órbita do Bruce seria afetada, não!?
Bruce muda sua velocidade NÃO por se afastar da nave. A velocidade de Bruce não guarda relação causal com a distância que se encontra da nave. Ele se afasta da nave por ter sido impulsionado para fora dela pelo propulsor em seu traje. O mesmo propulsor o faz retornar quando assim é desejado.
Professor, não entendi exatamente, se puder detalhar os conceitos envolvidos nessa questão, lhe agradeço, pois ao meu ver, não é tão simples quanto parece.
Segundo a lei da conservação da energia, temos que um corpo tende a manter o repouso ou seu movimento acelerado, desde que este não sofra alguma força de ação externa, correto!?
Sendo assim, o conjunto Nave + Bruce estando em órbita, a tendência é que o conjunto assim permaneça até sofrer alguma força proveniente de ação externa. Já para o caso em que Bruce se separa da nave através da ação exercida pelo propulsor, este acaba saindo do repouso e até mesmo vence a Inércia que faria com que ele seguisse orbitando a Terra no mesmo sentido da Nave.
Concluindo, tendo em vista que ao se deslocar em sentido contrário do seu movimento inicial (nave em órbita), Bruce se distancia da nave, existe a possibilidade de que ele perca velocidade em relação à Terra e seu estado de órbita seja afetado!?
A velocidade que o Bruce adquire em relação a nave produz uma pequena modificação em sua órbita em torno da Terra. Nota que a velocidade relativa dele em relação à nave é de alguns metros por segundo enquanto que a velocidade orbital de ambos é quase 8 km/s.
Gostaria de saber quando um astronauta sai para fora a fazer manutenção externa a velocidade dele é a mesma da nave pois me parece que a iss faz 27 mil km/h neste caso fora da nave o astronauta também está na mesma velocidade
Sim, ao sair sua velocidade continua sendo a mesma.
Não acho essa resposta em lugar algum.Vamos lá.
Hipoteticamente,uma nave está lá na região onde a sonda Voyager 1 está agora.Entao,essa nave pára,fica para Dinha no espaço.
Aí vem minha dúvida:
Se um astronauta abrir a porta dessa nave e pular pra fora,o que acontecerá?
Ele irá flutuar?
Ou irá se despencar,cair pra o infinito?
Se ao “pular” da nave adquirir uma velocidade, nave também adquirirá em sentido oposto uma velocidade. Ambos, sujeito e nave, manterão estas velocidades indefinidamente.
“Cair” é ser atraído pela gravidade de um planeta ou estrela. Se não tiver nenhum por perto, fica flutuando pela falta de gravidade. Desculpem se simplifiquei demais, mas talvez assim fique mais compreensível aos terrachatistas.