Paradoxal efeito do arrasto no movimento de um satélite.
18 de julho, 2020 às 11:36 | Postado em Gravitação, Mecânica
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Olá!
Ao ler o livro Curso de Física de Berkeley, V.1 me deparei com uma pergunta que estranhei: “qual o efeito de atrito sobre o movimento de um satélite? por que o atrito aumenta a velocidade?” o que me chocou, pois até o momento sempre esperei que a velocidade era diminuída pelo atrito. Apesar de encontrar uma resposta no link abaixo, não me foi suficiente. Ainda tateio em entender como isso acontece, penso: o satélite perde altura devido a atrito. A altura é perdida devido diminuir sua velocidade radial (certo?), mas ao perder altura se ganha em energia cinética (energia potencial é convertida), o que faz aumentar a velocidade novamente. Isso não faria ganhar altura novamente? O raciocínio é como expus? Se puder tecer algumas palavras sobre esse fato contra-intuitivo, ficarei feliz! Obrigado!O efeito do atrito com a atmosfera sobre a velocidade de um satélite.
Inicialmente um comentário sobre a palavra atrito neste contexto. Melhor seria denominar como força de resistência ou força de arrasto pelas razões discutidas em Aquecimento de objetos pelo “atrito” com a atmosfera.
Imaginemos que um satélite com massa m esteja em órbita circular com velocidade V em torno da Terra no qual somente é exercida a força gravitacional. A resultante das forças sobre o satélite é, portanto, a força gravitacional que a Terra (considerada como um corpo com distribuição esférica de massa) sobre ele exerce. Sendo M a massa da Terra e R o raio da órbita decorre da Segunda Lei de Newton e da Lei da Gravitação Universal que
Mas o lado esquerdo da equação 3 é a energia cinética K do satélite. Ou seja,
Portanto da equação 3 e 4 resulta que a energia cinética do satélite é dada por
Esta equação implica em que órbitas mais afastadas da Terra para um mesmo satélite tem MENOR energia cinética do que órbitas mais próximas do planeta.
Como a energia potencial Ep do satélite é dada por
a energia mecânica E do satélite, soma da energia cinética com a energia potencial, é expressa como
ou seja, a energia mecânica que é sempre negativa, tende para zero quando o raio da órbita tende a infinito. Desta forma, órbitas mais afastadas da Terra para um mesmo satélite tem MAIOR energia mecânica do que órbitas mais próximas do planeta.
No lado direito da equação 9 encontra-se um valor que somente difere da energia cinética (equação 5) pelo sinal negativo. Ou seja
Então finalmente fica demonstrado que a energia mecânica do satélite é igual ao negativo da sua energia cinética. E se houver uma variação na energia mecânica, a equação 10 implica em que a energia cinética varia pela mesma quantidade mas com sinal contrário pois
Caso se considere uma órbita elíptica, a energia mecânica é conservada ao longo de toda a órbita e o resultado 9 pode ser igualmente demonstrado desde que R seja o raio médio (ou a metade do eixo maior) da elipse (vide Blitzer, 1971). O resultado 10 é igualmente válido se K é a energia cinética média na órbita pois tanto a energia potencial quanto a cinética são variáveis.
Quando a órbita de um satélite é perturbada por uma força de pequena intensidade quando comparada à da força gravitacional, o trabalho desta força implicará em uma pequena variação da energia mecânica do satélite. Se esta força é a força de arrasto atmosférico para satélites em órbitas baixas, como por exemplo a ISS, a energia mecânica do satélite diminuirá. Ou seja,
Diminuindo a energia mecânica, a equação 9 implica em que o raio médio da órbita diminuirá também. Da equação 11 ou da equação 5 decorre então que a energia cinética média ao longo da órbita aumenta, ou seja, haverá um acréscimo de energia cinética pois com o encolhimento da órbita a perda de energia potencial média suprirá o ganho de energia cinética média.
É importante notar que um corpo em queda no ar também terá a sua energia cinética crescendo (até que atinja sua velocidade terminal), apesar de haver arrasto do ar e consequente perda de energia mecânica. E são conhecidos outros processos em que há perda de energia mecânica devido à existência de forças de resistência mas nos quais a energia cinética cresce; é o caso, por exemplo, do corpo que escorrega no plano inclinado com atrito.
Comentário sobre a ISS: a órbita ISS, devido ao arrasto da atmosfera que ainda existe a 400km da superfície da Terra (altitude na qual se encontra a Estação), deve ser corrigida de tempos em tempos para compensar a perda de altitude que acontece na taxa de 2km por mês (vide Correção de órbita).
“Docendo discimus.” (Sêneca)
O único movimento dos satélites balões faz no sentido vertical em grande aceleração, coitado de quem estiver em baixo,
Contra a reliadade não há argumentos e nem fórmulas matemáticas magicas, e nem partido A ou B, existe apenas a realidade
Balões caindo no chão
Pena que não leste alguma das matérias que indicaste. Se tivesses lido, terias percebido (talvez eu seja muito otimista com um portador da síndrome de Dunning-Kruger) que estas matérias nada tem a ver com satélites. 🙂
Mas se quiseres aprender um pouco (para quem nada sabe pouco é muito! 😉 ) acessa Enxergando satélites.
Abaixo vai uma das diversas fotos da ISS feitas em junho de 2020 pelo astrofotógrafo Deivis S. Ortiz em Americana- SP.
Desculpe, mas tem uma explicação muito menos bizarra para isso: a conservação do momento angular.
Vou tomar o termo “bizarra” na sua terceira acepção de https://www.dicio.com.br/bizarro/, isto é, como elegante. 😉
Talvez exista “uma explicação muito menos elegante” mas certamente ela não passa pela conservação do momento angular pelas razões que destaco a seguir.
Não há conservação necessária nem da energia mecânica e nem do momento angular quando se passa de uma órbita para outra se a força que determina a órbita é central e dependente do inverso do quadrado da distância.
No caso considerado, por simplicidade tratou-se de órbitas circulares. Conforme se considere órbitas circulares com raio menor, tanto a energia mecânica quanto o momento angular diminuem como é fácil demonstrar. O momento angular é diretamente proporcional à raiz quadrada do raio da órbita.
Outra forma de se concluir que o momento angular deve variar está em que a força de arrasto é exercida na direção da velocidade, em sentido contrário ao da velocidade. Então haverá um torque da força de arrasto em relação ao centro da órbita.
A propósito veja Conservação do momento angular de uma órbita para a outra?