Uma explicação qualitativa da razão de ciclones e anticiclones girarem em sentidos opostos (resposta a um terraplanista)
10 de julho, 2017 às 16:56 | Postado em Forças inerciais, Forma da Terra, Gravitação, Mítica Terra Plana
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Professor Lang
Um terraplanista afirmou que os ciclones podem girar em sentido horário e anti-horário no mesmo hemisfério e que portanto a Terra não gira. Alegou que o giro deles é causado apenas pelas condições atmosféricas. Peço que o sr. esclareça se de fato existem ciclones nos dois sentidos em um dado local e se eles dependem da rotação da Terra. Grato!
Não é verdade que ciclones girem nos dois sentidos em um mesmo hemisfério. Os ciclones giram em sentido horário no hemisfério sul e em sentido antihorário no hemisfério norte. Entretanto existe um outro fenômeno atmosférico, que não pode ser confundido com os ciclones pela razão que exponho adiante, os anticiclones, e que giram em sentido contrário aos ciclones em cada um dos dois hemisférios. A seguir vemos uma representação no inverno de 2013 da ocorrência simultânea de um ciclone e um anticiclone explicando uma intensa onda de frio em final de julho, discutido em Vórtices atmosféricos nos dois sentidos?
Vou agora dar uma explicação qualitativa para a formação dos dois vórtices atmosféricos. Para tanto devo notar que qualquer corpo em movimento na superfície da Terra está sujeito à força inercial de Coriolis, em decorrência da rotação do nosso planeta. Sobre objetos em movimento horizontal no hemifério sul a componente horizontal da força de Coriolis sempre produzirá uma deflexão do movimento para a esquerda de quem olha no sentido do movimento. No hemisfério norte a deflexão ocorre para a direita. Esta deflexão é notória sobre projéteis lançados a grandes distância conforme tratado em Desvio de projéteis pela força inercial de Coriolis.
A deflexão depende da latitude, crescendo se a latititude aumenta, ou seja, se o corpo em movimento está mais próximo ao polo sul ou norte. A componente horizontal da força de Coriolis tende para zero conforme o movimento ocorra mais próximo do equador. Próximo ao equador não há portanto condições para a produção de ciclones e anticiclones.
A figura que segue indica dois centros atmosféricos, um de alta pressão em azul e outro da baixa pressão em vermelho. As setas representam o movimento radial HORIZONTAL que o ar adquiriria na ausência de força de Coriolis ou se ela é desprezível.
A próxima figura representa os movimentos que o ar efetivamente terá no hemisfério sul, sendo defletido graças ao efeito de Coriolis anteriormente referido.
Desta a forma fica entendido que da rotação da Terra depende a existência desses dois tipos de vórtices que giram em sentidos opostos no mesmo hemisfério, trocando de sentido cada um deles quando se troca de hemisfério.
OBSERVAÇÃO: o vórtice detectado em um dos experimentos de Shapiro (1962) no ralo de um tanque (discutido em Mais uma vez o vórtice de Coriolis no ralo da pia) é semelhante ao comportamento dos ciclones.
Mais uma vez o terraplanista se enganou, ou por ignorância ou por má fé, na tentativa não só de refutar a forma da Terra mas a sua rotação. Vale destacar que os geocentristas do século XVI, quando a hipótese copernicana foi lançada, não tinham dúvidas sobre o fato de que a Terra é esférica. É bom lembrar que na Antiga Grécia o geocentrismo aristotélico admitia e apresentava evidência da Terra esférica, refutando a esdúxula e anacrônica Terra Plana. Vide as seções iniciais do artigo intitulado “Sobre a forma da Terra” disponível no Research Gate.
Outras postagens sobre efeitos de Coriolis: Força inercial de Coriolis.
“Docendo discimus.” (Sêneca)
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