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Cosmologia – Big Bang – James Webb

Ahhaaaa! Fala Professor, Tudo bem?
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Então…. a internerd não está nem dormindo com centenas de páginas falando que o James Webb “provou” que a teoria do Big Bang não é verdadeira.
Pelo que vi de alguns resultados realmente se encontrou uma série galáxias bem desenvolvidas logo no início do Universo, mas que isso possa ser o “big bang” do “Big Bang” ai já acho precipitado dizer.
Pode falar um pouco mais sobre esse assunto para nós ?

Respondido por: Profa. Cristina Furlanetto - IF-UFRGS

Você está certo em achar que é precipitado dizer que essa descoberta de galáxias que parecem ser massivas demais para a época em que viviam coloca em dúvida a teoria do Big Bang.

Para quem não acompanhou a discussão, segue um resumo sobre esse assunto. Um grupo de astrônomos identificaram em imagens no infravermelho obtidas com o telescópio espacial James Webb seis galáxias que parecem ser muito maiores do que deveriam ser em uma época tão inicial do universo. Os dados obtidos retratam como era o Universo há 13 bilhões de anos, uma época em que ele tinha apenas 3% de sua idade atual. Apenas 500 a 700 milhões de anos após o Big Bang, essas galáxias eram de alguma forma tão massivas quanto nossa galáxia Via Láctea é agora. Esse resultado indica que estas galáxias tiveram um crescimento inicial muito rápido, o que desafia o nosso entendimento sobre a formação de galáxias. Os modelos mais tradicionais preveem encontrar apenas galáxias muito pequenas (entre 10 a 100 vezes menores) e jovens tão cedo assim na infância do Universo. Esses resultados foram publicados recentemente na revista Nature, em um artigo liderado por Ivo Labbé, da Universidade de Swinburne, na Austrália.

Por se tratar de uma descoberta interessantíssima e inesperada, vários portais de notícias e canais de divulgação científica na internet repercutiram o assunto. No entanto, em alguns deles, essa descoberta foi noticiada de forma sensacionalista, com manchetes que levavam a interpretações equivocadas, questionando a veracidade do Big Bang e se o Universo não teria nascido em uma época diferente.

É preciso ter muito cuidado aqui. Primeiro, porque os próprios autores afirmam que esses resultados ainda precisam ser confirmados com dados de outros instrumentos para termos certeza de que essas galáxias são de fato tão grandes e massivas quanto aparentam ser e que estamos as observando quando o Universo tinha apenas algumas centenas de milhões de anos. Existem várias maneiras de se estimar a massa estelar de uma galáxia e foram usadas nesse estudo 7 técnicas diferentes para estimar as massas dessas galáxias e a maioria das medidas concordam entre si. Entretanto, os autores notam que todas estas técnicas foram calibradas com galáxias mais próximas e pode ser que essa calibração não se aplique para galáxias muito distantes no início do Universo, o que poderia causar uma superestimativa das suas massas. Já a confirmação de quantos anos essas galáxias têm pode ser feita através da análise do espectro da luz emitida por elas. Devido à expansão do Universo, a luz que as galáxias do início do Universo emitiram foi estendida em seu caminho até a Terra, de forma que todo o seu espectro foi “desviado para o vermelho”. Analisando o espectro dessas galáxias, poderemos determinar se essas galáxias são tão antigas quanto parecem ou se são apenas galáxias intrinsecamente avermelhadas (devido a efeitos exóticos ainda desconhecidos ou à presença de um buraco negro supermassivo obscurecido por poeira) de um tempo mais recente.

O segundo ponto importante de ser destacado aqui é que essa descoberta e possíveis desdobramentos advindos de novos dados dessas galáxias nos ajudarão a entender melhor a formação de galáxias, e não colocam em dúvida o Big Bang, que é um consenso científico bem estabelecido. Existem várias evidências que nos fazem entender muito melhor a idade do universo do que os processos físicos que regem os estágios iniciais de formação e evolução de galáxias. Um dos principais objetivos do telescópio espacial James Webb é entender estes últimos e não testar a veracidade do Big Bang.


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