Vidro e radiação UVA e UVB
15 de novembro, 2022 às 10:37 | Postado em Óptica
Respondido por: Prof. Ricardo Rego Bordalo Correia - IF-UFRGSBoa tarde!
Vi uma pergunta no site sobre UV – Radiação ultravioleta atravessa o vidro? – e na resposta diz o seguinte:
“O vidro comum encontrado em janelas, de acordo com a International Ultraviolet Association, permite a passagem de UV-A enquanto quase 100% de UVB e UVC é bloqueada”
Gostaria de saber se a quantidade retida de UVB e UVC varia conforme a espessura do vidro e, também, se existe algum tipo de vidro ou material que não retenha UVA e UVB. Pois estou fazendo um estudo sobre fluxo laminar e esterilização para microbiologia e não encontrei essas informações.
Muito obrigada,
Att,
Natália Eloize Gomes
O vidro comum citado na questão corresponde usualmente ao vidro denominado “soda-lime”, onde outros óxidos são adicionados à sílica (SiO2) para permitir uma temperatura de fusão inferior e maior estabilidade química. Ao acrescentar outros materiais, a transmissão na região do UV é afetada, modificando o início da forte absorção para comprimentos de onda inferiores a 150nm. Neste caso, o início da forte absorção desloca-se para comprimentos de onda mais longos, ~320nm, chegando a cobrir toda a região do UV-C e UV-B, como no caso do vidro de soda-lime, a depender do fabricante.
A transmissão de luz através de uma matriz vítrea com baixo espalhamento pode ser modelada através da relação em que a fração de absorvida da luz incidente é proporcional ao coeficiente de absorção do material. Assim, contabilizando à parte a luz refletida nas interfaces do vidro, a irradiância transmitida através de um material homogêneo de espessura segue a expressão desenvolvida por Pierre Bouguer e denominada de Lei de Beer–Lambert–Bouguer [1]:
I(L) = I0 10–αL.
Onde a irradiância da luz transmitida já descontada a fração refletida nas interfaces, I(L), a partir da irradiância incidente, I0, corresponde à atenuação exponencial através do coeficiente de absorção decádico α . Como característica de cada meio, esse coeficiente de absorção é função do comprimento de onda incidente (λ), i.e., α = α(λ) .
Dessa expressão define-se a transmissão interna como:
Ti = I(L)/I0 = 10-αL.
Desta forma, a transmissão interna de vidros é registrada por seus fabricantes através de tabelas de coeficientes de transmissão, α(λ) , ou da própria transmissão interna, Ti (λ) para uma espessura padrão (tipicamente 1,0 mm), em diversas regiões espectrais da região do ultravioleta até o infravermelho.
Abaixo estão os gráficos dos coeficientes de absorção e correspondente transmissão interna dos vidros soda lime e BK7 na região do visível e UV.
Curvas de transmissão de vidros com baixa absorção (α < 0,01mm-1 ) na região do UV podem ser encontradas na referência [2].
[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Beer%E2%80%93Lambert_law
[3] https://refractiveindex.info/