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Turbulência severa no voo da Lufthansa

Professor Lang

A reportagem do jornal Estado de Minas abaixo indicada relata que um voo da Lufthansa sofreu um turbulência severa que fez o avião cair 4000 pés (mais de 1200 metros) em queda livre. Outras notícias falam em uma queda de 1000 pés.

Modelo brasileira passa por turbulência severa em voo e mostra estrago no avião

Qualquer uma das duas possibilidades indica que o avião deve ter encontrado uma bolsa de vácuo dentro da atmosfera com centenas de metros de dimensão vertical. Isso é possível de acontecer?

Agradeço antecipadamente sua resposta.

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

De fato é impossível acontecer uma bolsa de vácuo  com centenas de metro de extensão dentro da atmosfera que possibilitasse uma queda livre do avião.

A turbulência que afetou o voo da aeronave Airbus A330 no início do dia 02/03/2023 sobre os EUA, segundo o porta voz da Lufthansa à CNN,  é denominada de “turbulência de ar claro que pode ocorrer sem fenômenos climáticos visíveis ou aviso prévio“. Ela foi severa e de curta duração.

Este tipo de turbulência, segundo o texto da ANAC Turbulence, é “originada por corrente de jato (jet stream) e comumente atinge a aeronave em voo de cruzeiro a cerca de 30.000 pés“. Ainda segundo o texto da ANAC em uma turbulência severa a aeronave pode sofrer acelerações de até 2g (onde g é o valor da aceleração da gravidade).

Se a aeronave apresenta aceleração vertical e para baixo maior do que g, objetos soltos dentro da cabine, são arremessados para cima no sistema de referência do avião, pois a aeronave tem aceleração maior do que a dos objetos soltos e em queda livre no seu interior.  Então pessoas que não estejam usando cinto de segurança podem ser lançadas para cima no sistema de referência do avião, colidindo com o interior da cabine acima de suas cabeças.

De fato houve alguns passageiros feridos no A330 da Lufthansa, além de muitos objetos que terminaram espalhados no assoalho da cabine, e por isso o voo foi interrompido por um pouso não programado em Washington, somente continuando para a Alemanha no dia seguinte.

Quanto a ter ocorrido uma queda de 4000 pés (ou de 1000 pés) da aeronave é um completo absurdo. Uma queda livre com tal amplitude, além de ser impossível em presença de atmosfera, teria durado cerca de 16 segundos para 4000 pés ou 8 segundos para 1000 pés.

No Flight Radar se elucida sobre a extensão da queda do A330 durante o rápido episódio de severa turbulência. No gráfico superior da figura 1 pode-se observar na linha azul uma pequena mudança na altitude da aeronave indicada pela seta vermelha. No gráfico intermediário a altitude do voo é ainda 37000 pés (altitude de cruzeiro) às 00h10min20s do dia 2 de março. No gráfico inferior, às 00h11min23s do dia 2 de março, está registrada pelo radar a menor altitude de 36725 pés.

Desta forma a queda estimada pelos dados do radar foi de 275 pés (cerca de 82 metros). Ou seja, os dados do radar apontam para um valor de queda de menos de 300 pés, incompatível com os noticiados de 4000 pés ou 1000 pés.

Outra postagem do Pergunte ao CREF sobre o tema: Como é possível uma pessoa ser lançada para cima em relação ao avião que despenca durante a perda de sustentação?

“Docendo discimus.” (Sêneca)

 


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