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Sobre a temperatura ideal de ajuste para o condicionador de ar

Caros Senhores,
Li numa postagem uma reprodução sobre a temperatura ideal de funcionamento de um condicionador de ar como sendo a de 23°C, sendo que tal temperatura representaria uma economia de 50% sobre a base do consumido na temperatura de 17°C. A explicação dada me pareceu estranha. Textualmente lá se diz:
1 – “Esta redução se deve primeira pela redução da diferença entre a temperatura entre o ambiente interno e o ambiente externo, reduzindo a carga térmica e, por consequência, fazendo com que o condicionador de ar trabalhe menos.”
2 – “Em segundo lugar, aumenta a diferença de temperatura de troca entre o fluido refrigerante e o ar da sala. Isto faz com que a quantidade de calor trocado aumente.”
link do site indicado pela postagem:
http://jornal4cantos.com.br/use-sempre-o-23c/
Por isso pergunto: Tal fato é verdadeiro? E em caso positivo, esta razão é a correta para explicar tal fato?
Agradeço antecipadamente
Eduardo Lauande

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

Os aparelhos condicionadores de ar absorvem energia (calor) no ambiente (sala) a ser refrigerado e lançam calor no meio externo. Para realizar tal transporte é necessário que o compressor absorva trabalho e este é suprido por um motor elétrico. A eficiência deste processo é cerca de 300%, isto é, para cada unidade de energia de energia fornecida pelo motor, cerca de 3 unidades de energia são retirados da sala. Vide Potência de refrigeração versus potência elétrica do condicionador de ar Potência do condicionador de ar?

Entretanto como há uma diferença de temperatura entre o ambiente já refrigerado e o exterior, entra indesejavelmente energia no ambiente refrigerado por condução, convecção e radiação graças ao fato que lá fora a temperatura é mais alta. Esta entrada de energia está relacionada à “carga térmica” no texto supracitado. No mesmo tempo, a quantidade de energia que entra no ambiente cresce conforme aumenta a diferença de temperatura entre o exterior e o interior, isto é, conforme baixa a temperatura na sala. Ou seja, quanto mais baixa a temperatura no ambiente refrigerado, tanto mais energia na unidade de tempo entra e portanto, para manter a temperatura baixa,  terá que ser retirada pelo condicionador de ar.

Assim sendo, quanto mais baixa é a temperatura no ambiente refrigerado, tanto mais tempo o compressor do aparelho  condicionador de ar  deve ficar ligado para mantê-la, aumentando a quantidade de energia elétrica demandada pelo aparelho. Portanto a parte 1 do texto referido acima está correta.

A absorção de energia da sala pelo aparelho condicionador de ar se dá em uma placa (ou mais placas) que se encontra, graças ao fluido refrigerante, em um temperatura inferior à temperatura do ar na sala. Já que a energia absorvida na unidade de tempo depende da diferença de temperatura entre esta placa e a temperatura do ar na sala, quanto maior for a temperatura do ar, maior será a diferença de temperatura entre ele e a placa e , portanto, maior será a quantidade de energia absorvida na unidade de tempo. Portanto a parte 2 do texto referido acima está correta.

Cabe ainda ressaltar que a temperatura escolhida no termostato do aparelho condicionador de ar NÃO afeta diretamente a temperatura do ar “gelado” que sai do aparelho. Dizendo em outras palavras, se o termostato está em 17°C ou  23°C, a temperatura do ar “gelado” que sai do aparelho não depende desta regulagem. O termostato apenas reconhece se o ar da sala está ou não na temperatura escolhida e quando está acima, sua função é manter o motor elétrico, acionador do compressor do aparelho, ligado para que continue saindo ar “gelado”.

A conclusão final é que se a temperatura do termostato do condicionador de ar estiver em 23°C certamente haverá um consumo inferior de energia elétrica do que se estiver a 17°C. Quanto a haver uma diferença de 50% no consumo, não há informação suficiente para avalizar a correção de tal afirmativa.

“Docendo discimus.” (Sêneca)

Acessos entre 27 de maio de 2013 e novembro de 2017: 909.


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