Significado do termo “descoberta científica”.
29 de março, 2019 às 11:38 | Postado em Filosofia da Ciência, História da Ciência
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Sou licenciando em física iniciante, alinhado com os propósitos do IF. Meu cenário é a sala de aula e as questões se inserem no escopo do ensino da física.
A leitura do interessante artigo “TRÊS EPISÓDIOS DE DESCOBERTA CIENTÍFICA: DA CARICATURA EMPIRISTA A UMA OUTRA HISTÓRIA” de Lang e Peduzzi, parcialmente apresentado e discutido em aula, suscitou algumas questões que endereço ao CREF. A seguir a primeira.
- Qual o significado do termo “descoberta científica” nos limites do artigo, sob a ótica empirista e de forma geral? Esse termo não é do repertório empirista? Explico-me: esse termo e o título do artigo me fazem pensar que o conhecimento já está pronto e pode ser apenas descoberto, ou garimpado.
A palavra descoberta possui múltiplos significados. Por exemplo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986) registra entre outros: 1. Aquilo que se descobriu ou encontrou por acaso ou mediante busca, pesquisa, observação, dedução ou invenção. … 3. Achado, invenção, inovação. (grifo nosso)
No início do longo verbete da Wikipedia sobre descoberta (discovery) encontra-se: Discovery is the act of detecting something new, or something previously unrecognized as meaningful. (Descoberta é o ato de detectar algo novo, ou algo anteriormente não reconhecido como significativo.)
Desta forma, o significado da palavra descoberta em uma particular situação não pode ser elucidado sem referência a todo o contexto no qual a palavra está imersa.
Para os empiristas-indutivistas as descobertas científicas decorrem de uma síntese de observações, medidas. Já para um racionalista crítico como Karl Popper a palavra descoberta está relacionada com invenção, criação de novas ideias:
As teorias científicas são invenções, construções humanas. “As teorias podem ser vistas como livres criações da nossa mente, o resultado de uma intuição quase poética, da tentativa de compreender intuitivamente as leis da natureza” (Popper, 1982, p. 218). O processo de criação de uma teoria pode envolver aspectos não-racionais; a imaginação, a criatividade, a especulação usualmente desempenham papel importante. Inclusive a metafísica pode servir de fonte. “Não há ‘fontes últimas’ do conhecimento. Toda fonte, todas as sugestões são bem-vindas; e todas as fontes e sugestões estão abertas ao exame crítico” (Popper, 1982, p. 55). (In: A FILOSOFIA DA CIÊNCIA DE KARL POPPER: O RACIONALISMO CRÍTICO) |
Desta forma, no artigo “TRÊS EPISÓDIOS DE DESCOBERTA CIENTÍFICA: DA CARICATURA EMPIRISTA A UMA OUTRA HISTÓRIA”, no que se refere às caricaturas empiristas, a palavra descoberta pode ser interpretada conhecimento que já está pronto e pode ser apenas descoberto, ou garimpado. Já nas outras histórias apresentadas no mesmo artigo a palavra descoberta remete a conhecimentos científicos criados, construídos, inventados.
Outro artigo tratando do tema da descoberta: A INSUSTENTABILIDADE DA PROPOSTA INDUTIVISTA DE “DESCOBRIR A LEI A PARTIR DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS”.
“Docendo discimus.” (Sêneca)