Princípios e Leis em Física
27 de julho, 2013 às 10:13 | Postado em Filosofia da Ciência, História da Ciência
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Prof. Fernando
Observei um comentário seu sobre o Princípio de Arquimedes feito ao o prof. Alexandre Medeiros no Facebook.
Eu aprendi e leio no livros que o nome é Princípio de Arquimedes mas entendi que o sr. disse não ser correta esta denominação. Poderia explicar pois fiquei em dúvida e gostaria de esclarecer.
Atenciosamente
Alfredo
Tocas em um aspecto de terminologia muito importante para a verdadeira compreensão de qualquer teoria.
Os físicos de um modo geral não são muito precisos em relação à terminologia correta (espero que meus colegas não leiam este comentário!). 🙂
O Prof. Alexandre Medeiros usou apropriadamente o termo LEI, ao invés de PRINCÍPIO, ao se referir à afirmação arquimediana sobre o empuxo fluidostático. E nem poderia ser diferente pois escrevemos em parceria o artigo “O Paradoxo Hidrostático de Galileu e a Lei de Arquimedes” – disponível no ResearchGate – e na nota de rodapé 1 já encontra-se a essência do que escrevo a seguir.
O caso específico do famoso enunciado de Arquimedes exemplifica bem esta imprecisão terminológica que não resume a uma mera questão semântica, envolvendo importantes aspectos sobre a estrutura lógica das teorias científicas.
PRINCÍPIO (postulado; axioma) é uma “proposição posta no início de uma dedução, não sendo deduzida de nenhuma outra no sistema considerado” (Dicionário de Técnico e Crítico de Filosofia – André Lalande).
Portanto um PRINCÍPIO é uma proposição NÃO demonstrada dentro de um particular sistema teórico. As proposições demonstradas são denominadas de TEOREMAS.
Ora, o famoso enunciado de Arquimedes pode ser reconhecido no texto do Arquimedes, intitulado “Sobre os corpos flutuantes” (disponível em http://www.ifi.unicamp.br/), como a Proposição 5, DEMONSTRADA a partir do Postulado 1 e das proposições que seguem. Portanto NÃO era um PRINCÍPIO para Arquimedes de Siracusa. Muitos séculos depois de Arquimedes o seu enunciado foi demonstrado a partir das Leis de Newton aplicadas a um modelo que descreve os líquidos. Desta forma não se deve denominar o famoso enunciado de PRINCÍPIO pois era um TEOREMA tanto para o próprio Arquimedes, quanto para a atual Mecânica Fluidos.
A expressão LEI é mais flexível e adequada pois LEI tanto pode denominar um PRINCÍPIO quanto um TEOREMA. Nota que se denominam de LEIS as proposições fundamentais (portanto não demonstradas) da Mecânica Clássica (Leis de Newton), da Termodinâmica (Leis da Termodinâmica), do Eletromagnetismo (Leis de Maxwell) e assim por diante. Também são denominadas de LEIS outras proposições, demonstradas dentro de um particular sistema teórico, como por exemplo, a Lei de Conservação da Energia Mecânica, a Lei da Conservação da Quantidade de Movimento (proposições demonstradas dentro da Mecânica Clássica), a Lei de Snell-Descartes (demonstrada dentro Óptica e, posteriormente, dentro da Teoria Eletromagnética), a Lei de Resfriamento de Newton (Termodinâmica) e assim por diante.
Eu oriento meus alunos a utilizarem a denominação LEI quando não tiverem certeza se um particular enunciado ou proposição é ou não demonstrável no sistema teórico de interesse. Assim não erram! 🙂
Outras perguntas relacionadas com esta discussão podem ser encontradas nos endereços que seguem.
PRINCÍPIOS em FÍSICA: induzidos ou deduzidos?
O que é teorema em Física, é a mesma coisa que fórmula?
“Docendo discimus.” (Sêneca)
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Comentário do Prof. Alexandre Medeiros no FB -Sua explicação foi muito boa e elucidativa a esse respeito. Não é uma mera questão semântica. Ela esconde um ponto fundamental que é muitas vezes deixado de lado.
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Ficaria então, dentro da Hidrostática: Princípio de Pascal, Teorema de Stevin e Lei de Arquimedes?
Sim, tais enunciados integram a Estática de Fluidos, impropriamente denominada de Hidrostática.
Deveríamos então usar “lei de incerteza de Heisenberg”? Já que a propridade pode ser derivada e decorre basicamente da unitariedade da teoria?
A palavra incerteza descreve um estado mental não um estado do mundo. Por isso realistas como Mario Bunge preferem denominar tais resultados(teoremas) como Relações de Heisenberg.