Poder de ampliação da gotícula de água x defeitos na visão
7 de maio, 2015 às 6:09 | Postado em Óptica, Óptica geométrica
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Boa noite, Prof. Lang!
Meu nome é Lúcia, sou estudante do ensino superior e, neste semestre, estou cursando a parte de óptica. Estou com uma dúvida. Ficaria muito grata, se o senhor puder esclarece-lá. Eu li a discussão na página da UFRGS – Microscópio caseiro com gota de água e laser: amplificação de 1000 vezes é possível? – , que trás como tema o poder de ampliação de uma gotícula de água. Eu não entendi muito bem quando o senhor relaciona o grau dessa gotícula com os graus relacionados com os defeitos da visão. No caso da gotícula, aquele valor de 1000 graus representa que a gotícula pode aumentar em até 1000x o tamanho do objeto. Mas, e com relação aos defeitos da visão ? O que significa a pessoa ter, por exemplo, 2 graus de miopia ou hipermetropia ? Acho que o grau, neste aspecto, não representa o poder de aumento da lente usada na correção do problema visual. O senhor poderia me explicar ? Muito obrigada, Lúcia (Manaus)
Talvez depois de estudares Óptica Geométrica as tuas dúvidas se esclareçam melhor do que tentarei agora.
O fato de a gotícula de água ter o poder de ampliação constatado no microscópio com laser decorre não apenas do “grau”, ou melhor dizendo, da VERGÊNCIA (este é termo técnico correto conforme destaquei naquela postagem sobre microscópio) da gotícula mas também da distância da gotícula ao local onde a imagem aparece. Quanto maior a distância, maior é amplificação e no caso em pauta esta distância é da ordem de metro.
Portanto uma vergência de 1000 “graus” ou dioptrias ainda não é suficiente para a definição do poder de amplificação da imagem em relação ao objeto. Necessita-se saber também a que distância da gotinha vemos a imagem!
Um olho humano normal tem vergência de cerca de +43 “graus” (a vergência pode ser negativa em alguns sistemas ópticos) e a imagem acontece na retina que está a cerca de 2,3 cm da parte anterior do olho. Alguns defeitos de visão, como a hipermetropia, decorrem de que o “grau” do olho é inferior aquele normal de cerca de 43 dioptrias. Digamos que este defeito resulte em 41 dioptrias para o olho; então a lente corretora deverá ter cerca de +2 dioptrias.
No caso da miopia a vergência do olho é superior ao valor normal. Digamos que seja 46 dioptrias; então a correção será feita com uma lente com cerca de -3 dioptrias, ou seja, uma lente divergente.
Em um olho defeituoso com hipermetropia as imagens acontecem depois da retina e no caso de miopia antes da retina, determinando que a visão não seja nítida. Portanto as correções destes defeitos de visão não intencionam aumentar ou diminuir as imagens na retina mas simplesmente garantir que as imagens de fato aconteçam sobre a retina. Para aumentar de maneira importante as imagens na retina e então vermos coisas aumentadas, são necessários outros dispositivos ópticos que não se reduzem a apenas uma lente com algumas poucas dioptrias quase colada ao olho (ou até colada ao olho como é o caso de uma lente de contato). Tais sistemas, lunetas, telescópios, microscópios …, além de uma lente quase colada ao olho envolvem outros sistemas refratores e/ou refletores para finalmente se obter uma imagem ampliada na retina em relação aquela que teríamos a olho nu.
Vais ter que estudar muito de Óptica Geométrica para de fato teres um bom entendimento de tudo isto.
Vide também:
- Imagem real na frente da colher pode ser vista?
- Distância focal de lentes e espelhos
- Imagem real e virtual !
- Lupa “funciona” quando o objeto está além do foco!
- Objeto no plano focal da lupa: a imagem é real ou virtual?
- A imagem real só pode ser projetada, mas como é possivel a minha imagem na parte côncava da colher?
- Por que apenas o fato de a lente ser de bordas finas não é suficiente para definir se ela é convergente?
“Docendo discimus.” (Sêneca)
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