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Pêndulo no ponto mais baixo de sua trajetória

Olá, professores. Tudo bem?

Já vi muitos professores afirmarem que a força resultante no ponto mais baixo de oscilação do pêndulo simples é diferente de zero, visto que o movimento é circular e deve ter uma aceleração centrípeta nesse ponto.

Porém, esse ponto é um ponto de equilíbrio, certo? A força resultante não deveria ser nula?

Agradeço a ajuda! Abraço!

Respondido por: Profa. Rejane Ribeiro Teixeira - IF-UFRGS

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  Um pêndulo simples consiste de uma partícula de massa “m” presa na extremidade inferior de um fio de comprimento “L” (ideal – massa desprezível e inextensível). A extremidade superior do fio é fixa.

Na ausência da força de resistência do ar, são exercidas sobre a partícula duas forças: a força gravitacional da Terra (chamaremos de força peso, P) e a força de tensão da corda, T (conforme a figura ao lado).

Analisemos duas situações:

Situação 1: O pêndulo se encontra em repouso na sua posição mais baixa, ele está em equilíbrio, e é nula a resultante das forças sobre a partícula. Ou seja, é nula a soma vetorial das forças P e T.

Situação 2:

O pêndulo é deslocado de um ângulo θ0 em relação a sua posição mais baixa (θ=0) e, então, é solto. O movimento do pêndulo se dá no plano, mas sua posição pode ser descrita completamente por θ, o ângulo entre o fio e a vertical. Ele realizará um movimento de vai e vem em torno da posição θ=0, descrevendo um arco de circunferência de raio L.

A força peso pode ser decomposta em componentes tangencial à trajetória, de módulo m.g.senθ, e radial, de módulo m.g.cosθ (ver figura ao lado). A força de tensão T é dirigida radialmente. As equações de movimento são:

m. aradial = – m. L. (dθ/dt)2 = m.g.cosθ- T   (eq.1)     e

m. atangencial = – m. L. (d2θ/dt2)= – m.g.senθ (eq. 2),

onde aradial e atangencial são, respectivamente, as componentes radial e tangencial da aceleração da partícula; e (dθ/dt) é sua velocidade angular w e (d2θ/dt2), sua aceleração angular α, tal que

aradial=L.(dθ/dt)2=L.w2 (ou ainda, aradial=v2/L, onde v é a velocidade tangencial da partícula, sendo v=L.w) e

atangencial=L.(d2θ/dt2)=L.α.

Vamos analisar separadamente as equações (1) e (2) acima. A equação para a componente tangencial (eq. 2) descreve o movimento do pêndulo simples: (d2θ/dt2)= – (g/L).senθ= – w02.senθ. Para ângulos medidos em radianos, valores pequenos de q permitem a aproximação senθ~ θ. E a equação de movimento fica:

(d2θ/dt2) +w02.θ = 0.

Ou seja, a aceleração angular é proporcional ao deslocamento angular, o que caracteriza um movimento oscilatório do tipo harmônico simples, com solução θ (t)= θ0 cos (w0.t).

A partir da eq. (1), a equação de movimento na direção radial, é possível calcular o módulo da força de tensão T como função da posição θ. A componente radial da aceleração da partícula possui módulo aradial =v2/ L e é dirigida radialmente para o centro da trajetória (para o ponto de fixação do fio). O valor da velocidade v como função da posição angular θ pode ser obtido a partir da solução da eq. (2). Do resultado de v (θ) e usando-se a eq. (1) obtém-se o módulo da força de tensão T.

Analisemos os valores do módulo de T para algumas posições: seu valor é máximo quando o pêndulo passa pela sua posição mais baixa de sua trajetória (θ=0), Tmáximo=T(θ=0)=m. g+m v2/L e é mínimo quando o pêndulo se encontra nos extremos de sua trajetória (θ=θ0), quando a velocidade v é nula, Tmínimo= T(θ=θ0)=m.g.cosθ0 (Tmínimo iguala a componente radial da força peso nesta posição).

Respondendo a sua pergunta:

Portanto, para o pêndulo em movimento, a força resultante não é nula quando ele passa pela sua posição mais baixa  pois Tmáximo > m. g, sendo Fres(θ=0)= m [v máximo]2 /L. Caso a força de tensão fosse igual ao peso (portanto a situação seria de equilíbrio) não haveria aceleração e a velocidade não mudaria nem em valor e nem em orientação, consequentemente o movimento NÃO seria circular. O ponto mais baixo da trajetória do pêndulo somente é uma posição de equilíbrio caso o corpo esteja em repouso.

É um equívoco referir o ponto mais baixo da trajetória do pêndulo como sendo um ponto de equilíbrio a não ser no caso particular de o corpo se encontrar em repouso.

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