O debate científico sobre o aquecimento global antropogênico I
18 de novembro, 2016 às 12:58 | Postado em Atmosfera, Outros temas, Termologia, termodinâmica
Respondido por: Prof. Alexandre L. Junges - Doutorando em Ensino de Física (IF-UFRGS)Esta postagem, de autoria do Prof. Alexandre Junges (Doutorando em Ensino de Física – IF-UFRGS) foi motivada no debate constante da postagem Aquecimento global e seus críticos. O CREF agradece ao Alexandre pelo texto bem produzido, rico de referências para todos os interessados no polêmico assunto.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquecimento_global#/media/File:McCarty_Glacier.jpg
O debate científico sobre o aquecimento global antropogênico
Como é bem sabido, a pesquisa científica sobre o sistema climático da Terra é um ramo interdisciplinar que envolve diversas áreas do conhecimento, envolvendo a contribuição de climatologistas, geólogos, glaciologistas, meteorologistas, oceanólogos, biólogos, químicos e físicos. Esta natureza interdisciplinar e complexa do comportamento do sistema terrestre impõe um grande desafio aos cientistas, inclusive quando precisam sintetizar em relatórios o conhecimento adquerido. Algumas das questões mais debatidas dizem respeito ao clima global, sua variabilidade natural, previsibilidade e principalmente sua suscetibilidade a ação humana.
O debate em torno do aquecimento global e de suas causas, naturais ou antropogênicas, é um tema polêmico com considerável repercussão midiática. De um lado, aparentemente a maioria da comunidade científica considera que o aquecimento global antropogênico é uma realidade, contudo, há aqueles cientistas que se dizem céticos ou contrários a ideia de que o homem possa estar impactando o clima. Diante deste cenário o leigo se encontra num impasse, afinal, quem são os especialistas? Como distinguir um especialista confiável? Sabe-se, por exemplo, que a opinião de um cientista individual pode ser motivada por diversos pressupostos (metafísicos, valores pessoais, interesses, desejo de fama, etc.). Uma saída para o leigo seria confiar no consenso científico, cuja opinião refletiria a posição da comunidade científica da área.
A pergunta que surge, então, é se podemos confiar no dito consenso científico sobre aquecimento global antropogênico? E, anterior a essa, existe mesmo tal consenso? A pequena revisão da literatura abaixo fornece subsídios ao leitor interessado investigar essas questões, para que possa tirar suas próprias conclusões sobre o tema.
Antes de prosseguir, contudo, uma palavra sobre o papel do consenso na ciência. Como muito bem sabemos, a história da ciência nos ensina a ser humildes no que concerne ao conhecimento científico em vigor, pois sempre existe a possibilidade de que questões atualmente consideradas como resolvidas, sejam reabertas no futuro, transformando o consenso vigente numa nova controvérsia. Ao mesmo tempo, é uma constatação histórica a de que sempre existem remanescentes que continuam a defender sua posição, mesmo após a grande maioria da comunidade científica considere a controvérsia encerrado. Por exemplo, no caso da história da Geologia, o geólogo Russo Beloussov que durante a década de 1970 apresentou forte resistência a teoria da deriva continental (e placas tectônicas), mesmo após a grande maioria da comunidade científica ter considerado a controvérsia resolvida (Andrew Lugg. Disagreement in Science, 1978).
Relativo ao tema das controvérsias científicas, em seu ensaio Scientific controversy and its termination (1987), Ernam Mcmullin (1987, p.51) nos oferece a seguinte caracterização de uma controvérsia científica:
[…] controvérsia é uma disputa pública e persistentemente mantida. Uma controvérsia científica se ocupa com uma questão de crença. Cada lado argumenta que o outro está errado e que eles mesmos estão certos, ou pelo menos tem o melhor caso. […] Existe argumento e contra-argumento. E a troca é pública […]. Um desacordo entre dois cientistas, não importando quão profundo, não é suficiente para constituir uma controvérsia até que os termos do seu desacordo sejam do conhecimento da comunidade científica em geral.
Como podemos notar na passagem acima, um simples desacordo entre dois cientistas não é suficiente para constituir uma controvérsia científica. Nas controvérsias científicas há uma peculiaridade envolvida, característica da ciência, a saber, a presença da comunidade cientifica. Mesmo que uma controvérsia inicie com dois indivíduos, ela é essencialmente uma atividade comunitária, de modo que outros membros da comunidade, com a competência necessária, podem tomar parte da controvérsia ou julgar os méritos de cada posição.
Neste contexto, um consenso científico legítimo é aquele em que foram consideradas todas as evidências relevantes para o caso e onde ocorreu um longo processo de crítica (argumento e contra-argumento) entre os pares (seja através de processos de peer review ou debates, etc.), ou seja, “todas” as críticas legítimas e argumentos contrários foram devidamente respondidas e solucionadas, passando pelo escrutínio da crítica da comunidade científica. É claro que, como visto, devido ao dinamismo da ciência, com o surgimento de novas evidências, etc., este processo não é infalível. Contudo, como também nos mostra a história da ciência, é um processo que tem fornecido à humanidade valiosos conhecimentos científicos.
No presente caso do aquecimento global antropogênico, apresento abaixo materiais e referências que sugerem a existência de um consenso legítimo sobre a existência de um aquecimento global antropogênico. Pretende-se com isso contribuir para o debate saudável sobre o tema, sem dogmatismos e opiniões pré formadas, fornecendo referências que podem ser úteis para quem tenha interesse em se aprofundar sobre o tema, deixando ao leitor a tarefa de tirar as suas próprias conclusões.
Em primeiro lugar gostaria de iniciar com uma referência de um artigo muito interessante do filósofo da ciência Philip Kitcher. “The climate change debates”. Science, v.328, 2010. http://science.sciencemag.org/content/328/5983/1230.1.full.pdf+html ) Neste artigo Kitcher (2010, p.1230) sugere que ao falar do tema, deve-se distinguir entre três questões:
a) A questão da causa antropogênica do aquecimento global.
b) A questão relativa à probabilidade de determinados fenômenos ocorrerem (derretimento das calotas polares, etc) e suas consequências para os seres humanos e outras espécies.
c) A questão relativa ao que pode ser feito para mitigar tais consequências.
A terceira questão é certamente a mais controversa e há muito desacordo entre cientistas sobre o que fazer a respeito (Hulme, 2009). A segunda questão é também consideravelmente complexa e envolve incertezas, pois recorre ao uso de modelos para previsão de longo prazo, que fornecem diversos cenários futuros possíveis, cenários mais otimistas e outros menos otimistas. Já a primeira questão é aquela em que parece haver um consenso científico consideravelmente sólido. Isso por que a base física do efeito estufa, as concentrações de CO2 na atmosfera e as medidas de temperatura são hoje muito bem conhecidas, etc. Neste ultimo caso, a respeito dos sinais do planeta e evidências, pode-se consultar o site da NASA (http://climate.nasa.gov/evidence/).
Voltado especificamente ao tema do consenso científico, merecem destaque as seguintes fontes para consulta:
1. Relatórios do IPCC: Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) [http://www.ipcc.ch/]. Que foi criado em 1988, uma criação conjunta da World Meteorological Organization (WMO) e da United Nations Environmental Programme (UNEP).
2. Atestados de Academias Científicas: Aparentemente, atualmente não há nenhuma academia científica no mundo que rejeite o consenso científico sobre aquecimento global antropogênico.
2001 – Natinal Academy of Sciences: “Climate change an analysis of some key questions” http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=10139
2010 – Royal Society => Climate Change: a summary of the science http://royalsociety.org/uploadedFiles/Royal_Society_Content/policy/publications/2010/4294972962.pdf
2007 – 2009 Diversas Academias Científicas, iclusive a Brasileira. Joint Science Academies’Statement http://www.nationalacademies.org/includes/climatechangestatement.pdf
Joint Science Academies’ Statement
http://www.nationalacademies.org/includes/G8+5energy-climate09.pdf
Para mais informações de outros atestados de academias pode-se consultar o link da Wikepedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Scientific_opinion_on_climate_change#Academies_of_Science
3. Revisões da literatura científica: Apresentam revisões das publicações na área das mudanças climáticas.
ORESKES, Naomi. “Beyond the ivory tower: the scientific consensus on climate change”. Science, v. 306, n.3, December, 2004. http://www.sciencemag.org/content/306/5702/1686.full.pdf
ANDEREGG, W. ; PRALL, J.; HAROLD, J. and SCHNEIDER, S. “Expert credibility in climate change”. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 2010. http://www.pnas.org/content/107/27/12107.full
4. Fontes de História da ciência do clima: Excelentes fontes de consulta sobre a história da ciência do clima, passando pelos primeiros trabalhos que discutem o efeito estufa como Svante Arrhenius (1896) e Guy Stewart Callendar (1938).
FLEMING, James. Historical Perspectives on Climate Change. New York: Oxford University Press, 1998.WEART, Spencer. The discovery of global warming (2011). Versão online: <http://www.aip.org/history/climate/index.htm>.
5. O debate entre cientistas e céticos:
HULME, Mike. Why we disagree about climate change: understanding controversy, inaction and opportunity. New York: Cambridge University Press, 2009.
ORESKES, N. & CONWAY, E. Merchants of doubt: how a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming. New York: Bloomsbury Press, 2010.
ORESKES, Naomi. “The scientific consensus on climate change: how do we know we’re not wrong?”. In: DIMENTO, J. F. C.; DOUGHMAN, P. (Eds.). Climate change: what it means for us, our children, and our grandchildren. Massachusetts: The MIT Press, p.65-99, 2007.
GELBSPAN, Ross. Boiling Point: How Politicians, Big Oiland Coal, Journalists, and Activists Have Fueled a Climate Crisis – And what we can do to advert disaster. New York:Basic Books, 2004.
MANN, Michael. The hockey stick and the climate wars: dispatches from the front lines. New York : Columbia University Press, 2012.
Dois Sites particularmente interessantes para consulta: http://www.realclimate.org/ http://www.skepticalscience.com/
6. A controvérsia climategate: Essa foi uma importânte polêmica iniciada em 2009 envolvendo o vazamento de e-mails de um dos grandes centros de pesquisas sobre mudanças climáticas na Inglatera o Climate Research Unit (CRU). Muitos cientístas foram acusados de fraudar dados sobre o aquecimento global. Comissões independentes foram encarregadas de analisar a acusação de fraude. Abaixo seguem os documentos das comissões independentes que analisaram o conteúdo dos e-mails:
House of Commons Science and Technology Committee. The disclosure of climate data from the Climate Research Unit at the University of East Anglia. (2010). Disponível em: <http://www.publications.parliament.uk/pa/cm200910/cmselect/cmsctech/387/387i.pdf>.
MUIR RUSSEL A. The Independent Climate Change E-mails Review. (2010). Disponível em: <http://www.cce-review.org/pdf/FINAL%20REPORT.pdf >.
Alguns livros e artigos que discutem o assunto:
MANN, Michael. The hockey stick and the climate wars: dispatches from the front lines. New York. Columbia University Press, 2012.
NERLICH, Brigitte. “Climategate: paradoxical metaphors and political paralysis”. (2010). Disponível em: <http://eprints.nottingham.ac.uk/1371/1/Nerlich_final_26_5_2010_(2).pdf>. Acesso em julho de 2012.
PEARCE, Fred. The climate files: the battle for the truth about global warming. (2010).
Em face da importância deste tema para o presente século XXI, espero que este pequeno resumo contribua para que mais e mais pessoas venham a ler e investigar sobre o tema. Por fim, gostaria de agradecer ao professor Fernando Lang pelo convite e por ceder este espaço de debate e divulgação científica.
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Se teve inicio então pode ter fim? mudanças são registros histórico deslocamento placas teutônicas, America separasse da africa, avanço desertos na asia e africa portanto não estamos em absoluto equilíbrio e a evolução das especies são fatos. Então os humanos estão acelerando sua própria extinção mais o planeta vai continuar no universo. Se este cenário estiver próximo do real . A indagação é tem possibilidade de procedimento de recuperação que seja realizável sem controlar e estabilizar o crescimento das população? Qual?
Para combater o aquecimento global tem que parar de fazer emissão d carbono se não duramos maís nem um século
Não há como negar que o aquecimento global tem causas, preponderantemente, antropogênicas e neste quesito não há controvérsia alguma. Vamos esclarecer. Todos concordam que o que causa o aquecimento do planeta é o efeito estufa. Certo? Mas é o efeito estufa que permite a vida no planeta, pois sem ele a temperatura na superfície da terra seria muito instável, com temperaturas muito baixas a noite. Então o problema está no aumento exagerado do efeito estufa. O que causa o efeito estufa? O efeito estufa é causado pelo acúmulo de gases na atmosfera, um gás importante é o gás carbônico (CO2). Existe no planeta um ciclo do carbono em que o carbono circula entre o meio físico (abiótico) e os seres vivos (meio biótico). Neste ciclo as plantas e algas conseguem converter este carbono inorgânico (CO2) em sua forma orgânica (moléculas orgânicas – inicialmente carboidratos e posteriormente outras moléculas baseadas em carbono). Então, as plantas e algas permitem que todos os seres tenham acesso ao carbono orgânico, por meio da cadeia alimentar. Como este carbono orgânico volta a sua forma inorgânica? A maior parte do carbono inorgânico (CO2), retorna para atmosfera por meio da ação de organismos decompositores. Eles transformam a matéria orgânica dos seres vivos, novamente em carbono inorgânico e assim fecha-se o ciclo. Ok! Mas o que isto tem a ver com o efeito estufa e o aquecimento global? É aí que entram os combustíveis fósseis. Esse combustível é o resultado da matéria orgânica que não foi decomposta lá no passado, ou seja, não voltou a sua forma inorgânica ao longo destes milhões de anos e desde a revolução industrial (menos de 200 anos) está voltando a atmosfera de uma maneira, absurdamente, rápida. Todos sabem que o processo de decomposição é lento e a queima é instantânea. Então, assumindo que a revolução industrial se iniciou em 1850, no curso de 170 anos estamos liberando, na atmosfera, toneladas de CO2 que ficaram fora do jogo por milhares de anos. É este aporte de CO2 extra que está se acumulando na atmosfera, aumentando o efeito estufa, levando ao aquecimento global e a mudança climática. Por isto é inegável a participação do ser humano no aquecimento global.