Frenagem de motocicletas: somente o freio traseiro?
4 de abril, 2018 às 12:12 | Postado em Atrito, Mecânica
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Olá, tenho visto ainda hoje que muitos “motociclistas” teimam em usar somente o freio traseiro, pois dizem que o dianteiro empina a parte traseira da moto e seria mais perigoso. Já fui motociclista e sei que isso não acontece, a não ser em velocidade muito baixa, além de ter que forçar o movimento. Aqui em minha cidade uma auto-escola inutilizou o freio dianteiro da moto de instrução para “evitar acidentes”. Ocorre que os engenheiros não colocam à toa freios maiores na frente e menores atrás. Como explicar as forças envolvidas de modo simples, na dirigibilidade e no espaço para frenagem? Creio que morra muita gente de moto, por não saber frear.
De fato o freio dianteiro é o que mais “segura” a motocicleta (e também automóveis) em frenagens de emergência. Segundo diversas fontes (por exemplo Honda ou motonline) em frenagens de emergência em que os dois freios são utilizados para maximização da aceleração de frenagem (tal acontece quando não há deslizamento, derrapagem do pneu, valendo portanto o atrito estático), 80% da força de frenagem (força de atrito com a pista) está aplicada na roda dianteira, sendo portanto a contribuição da roda traseira 20% apenas.
Entretanto há que se evitar o bloqueamento da roda dianteira pois a derrapagem (arrastamento do pneu sobre a pista), além de de diminuir a intensidade da força de atrito (o coeficiente de atrito cinético é menor do que o estático), pode levar ao tombamento da motocicleta. Freios ABS tem sido utilizados em motocicletas, impedindo a indesejável derrapagem. O uso simultâneo dos dois freios minimiza a possibilidade de empinar a roda traseira, de fazer o “noose wheeling“.
Entretanto emprego adequado dos freios necessita um treinamento por parte do motociclista e talvez isso explique a atitude da autoescola. Não treinar esta habilidade de uso do freio dianteiro na autoescola, é um procedimento reprovável e irresponsável, além de passar a ideia equivocada de que o freio dianteiro não deva ser usado.
Vide mais sobre o tema em Razão para a eficiência maior do freio dianteiro sobre o traseiro em veículos automotores
Outras postagens relacionadas com esta em Acidente de trânsito.
“Docendo discimus.” (Sêneca)
A resposta comenta que se deve evitar derrapagem porque “o coeficiente de atrito cinético é menor do que o estático”. Discordo dessa afirmação e me parece um erro disseminado.
Quando um carro ou moto derrapa, o atrito importante é cinético e entre a borracha e o asfalto. Até, todos concordamos.
Entretanto, enquanto um carro ou moto está sendo freado sem derrapar, o atrito importante não é estático e sim cinético também, porém ele se dá ENTRE O DISCO DE FREIO E A PASTILHA DE FREIO.
Obviamente o atrito entre a borracha e o asfalto é estático se o pneu não derrapa, mesmo com o piso molhado. E quando o pneu não derrapa o atrito entre o disco e a pastilha é cinético. Não há nada errado na afirmação.
Não há nada errado propriamente, mas é bastante “misleading” pois sugere que a principal diferença entre derrapar ou não derrapar seria a diferença entre atrito cinético e estático, quando na verdade a principal diferença é entre dois atritos cinéticos (borracha/asfalto ou pastilha/disco). Esse é um aspecto relevante do problema. Eu já vi em outros lugares esse raciocínio falacioso: “a diferença entre atrito cinético e estático está por trás da importância do freio ABS”. Não tem nada a ver.
Enganador é achar que usando um termo em inglês (“misleading” – que chique não é? ?) se possa transformar o correto em incorreto. De qualquer forma teu argumento está colocado para a avaliação de terceiros e reitero pela última vez que não há absolutamente nada errado no que foi escrito na postagem. “Misleading” é a tentativa de “enrolation”! ?
Vide também Derrapagem de pneu em arrancadas e dissipação pelo atrito .
O atrito estático é maior que o cinetico. Para um carro se movimentar, é preciso haver atrito estático entre a banda de rodagem e o solo, caso contrário ele vai apenas patinar.
Na frenagem, quando a roda trava, o atrito que começa a governar é o cinetico, o que deixa as marcas de pneu no chão. Por acaso, isso é o que não deve acontecer numa frenagem, a roda travar e o cinetico governar, pois o carro precisará de uma distância muito maior para parar.
O ABS entra justamente ai. Ele abre e fecha a pinça, numa fração de segundo, quando a roda está no limiar de travamento, o que faz com que apenas o estático entre a banda de rodagem e o solo governe, precisando de uma distância muito menor para parar.
O primeiro comentário está certo, e o último está errado. A frenagem sem derrapagem também é governada por um atrito cinético. O freio ABS não tem relação com atrito estático, o que ele faz é impedir que um atrito cinético (com o disco de freio) seja trocado por outro atrito cinético (com o chão).
O segundo comentarista não afirmou que o freio ABS tenha algo a ver com coeficiente de atrito estático entre o disco de freio a as pastilhas de freio. Aliás, decorre do que ele afirmou que vale o atrito cinético internamente ao sistema de freios. E se é verdade que o freio ABS “faz é impedir que um atrito cinético (com o disco de freio) seja trocado por outro atrito cinético (com o chão)”, então vale o atrito estático entre a banda de rodagem e a pista.
Prof. Lang., talvez o senhor não tenha lida a última frase do comentário: “o que faz com que apenas o [atrito] estático entre a banda de rodagem e o solo governe”. Errado. Há também o cinético no freio. Não é o atrito estático que faz o carro parar.
Nunca foi negado que há atrito cinético no freio! O que talvez queiras dizer é que se vale o atrito estático entre o pneu e a pista, as perdas de energia mecânica ocorrem internamente ao automóvel, no sistema de freios. Entretanto a força que acelera o automóvel somente pode ser uma força externa ao automóvel (nunca uma força interna), e a força externa é a força de atrito estático entre o pneu e o automóvel. Então é ela (juntamente com as forças de arrasto do ar) que “governa” (isto é, determina a aceleração do automóvel). Vide por exemplo a postagem Trabalho da força de atrito e variação de energia cinética
Vide também a dissertação de mestrado na UFRJ Trabalho e Energia: uma nova abordagem sobre a transformação e conservação de energia
Muito bom seu artigo parabéns pelas dicas
bem interessante isso!
Além de não ensinar a utilizar os freios adequadamente, os cursos em autoescolas também não ensinam como se fazer curvas com moto.
Realizar curvas com moto é anti-intuitivo, pois não se deve forçar o guidão para o mesmo lado da curva.
Já presenciei e ouvi relatos de acidentes e diversas situações em que motociclistas tiveram dificuldades para “vencer” uma curva ao tentar virar o guidão intuitivamente para o lado da curva que se quer fazer.
Condutores mais experientes e bem treinados utilizam o anti-esterçamento (forçar o guidão contrário à curva) para inclinar a moto corretamente para o lado da curva.