X

Fases da Lua: superstições e realidade

Bom dia, professor,

Meu nome é Carolina, sou repórter de Ciências do UOL Notícias e estou produzindo uma matéria sobre os mitos envolvendo a lua cheia (utilizando como gancho a chegada da lua cheia na semana que vem e o mês do dia das bruxas). Envio as perguntas por aqui e o senhor responde quando tiver um tempinho.

  • Por que há tantas superstições associadas à Lua? Como corte de cabelo, nascimento de bebês, humor. De onde vem essa crença de que a Lua teria poderes místicos?
  • As fases da Lua, principalmente a lua cheia, traz alguma mudança de fato? Na natureza, nos animais e na vida humana?

Atenciosamente,

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

Não é apenas em relação ao nosso satélite que são atribuídos poderes místicos/religiosos conforme podemos verificar cotidianamente. Os templos religiosos repletos de pessoas que vão procurar soluções “milagrosas” para seus problemas exemplificam tal necessidade humana de maneira contundente. As pseudociências também proliferam nas redes sociais, espalhando desinformação. Outros exemplos bem atuais abordados em diversas postagens, estão reunidos nas categorias Mítica Terra Plana e Mitos e empulhações.

Um dos supostos efeitos da Lua, talvez o mais conhecido, diz respeito ao ciclo menstrual das mulheres. A palavra “menstruação” é etimologicamente relacionada com a Lua. É derivada do latim mensis (mês) e do grego mene (lua). Entretanto o ciclo menstrual é de 28 dias em média (variando entre diferentes mulheres e nas mesmas mulheres em épocas diversas) e o ciclo lunar (intervalo de tempo que separa duas luas novas consecutivas) é aproximadamente 29,5 dias. Então como as mulheres observam uma menstruação ao longo do mês lunar, é fácil entender que ocorra uma indevida associação de causalidade entre os dois ciclos. Estudos científicos realizados a partir dos anos 90 do século passado demonstraram não haver correlação entre os dois ciclos.

Os alegados efeitos lunares sobre o cultivo de plantas também tem  sido descartados quando estudos bem conduzidos os testaram. Vide por exemplo Influência lunar sobre plantas hortícolas.

Entretanto existem objetivamente efeitos lunares importantes aqui na Terra e que podem ser compreendidos sem apelo a superstições, a supostos poderes místicos.

Os efeitos gravitacionais de maré se constituem em  um desses temas que já no século XVII com Newton foram estudados e explicados. Extrapolações indevidas de efeitos de maré sobre fluidos corporais “justificam” os mitos de diversas influências lunares tais como crescimento dos nossos pelos e cabelos, e no nascimento de bebês conforme discutido em A Lua e os bebês e Marés, fases principais da Lua e bebês.

Há também efeitos sobre animais e plantas relacionados à iluminação noturna maior (lua cheia) e menor (lua nova). A propósito da iluminação da lua, houve entre 1765 e 1813 uma sociedade científica na Inglaterra,  denominada Lunar Society, que tinha tal nome por suas reuniões acontecerem apenas na lua cheia dadas as deficiências da iluminação pública artificial que impediam seus membros de trafegarem em noites com pouco ou nenhum luar.

Postagens do CREF sobre a Lua estão reunidas em uma categoria especial, todas acessíveis em Lua.

“Docendo discimus.” (Sêneca)


Acrescente um Comentário:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *