COMO se pode CALCULAR o TAMANHO das ESTRELAS?
11 de janeiro, 2015 às 9:50 | Postado em Astronomia, Óptica
Respondido por: Prof. Alexandre Medeiros - UFRPeEsta é uma postagem do Prof. Alexandre Medeiros no Facebook, gentilmente autorizada pelo autor para ser reproduzida no CREF.
Uma amiga pergunta COMO se pode CALCULAR o TAMANHO das ESTRELAS como a gigantesca VY Canis Majoris. ÓTIMA PERGUNTA!
Aliás, é sempre interessante se perguntar, quando alguém nos diz algo surpreendente: COMO VOCÊ SABE DISSO?Veja esta imagem com mais resolução em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Star-sizes.jpg
Portanto, vamos ao que foi perguntado:
Pense em uma pergunta difícil de se responder em um mero comentário do Facebook. Mas, vale a pena tentar, em lugar de mudar de assunto e ficar falando apenas que VY Canis Majoris é ENORME. Então, vamos DIRETO AO PONTO! Estrelas estão em geral simplesmente MUITO longe para que se possa medir facilmente os seus diâmetros! E sem eles, fica difícil, à primeira vista, se obter os volumes das respectivas esferas estelares.
Por que essa dificuldade?
1. Em primeiro lugar, porque a Turbulência Atmosférica borra as imagens obtidas pelos grandes telescópios na Terra; mas isso atualmente pode ser bastante atenuado com o emprego da técnica da ÓPTICA ADAPTATIVA ao telescópio. Em rápidas palavras a essa tecnica consiste em “corrigir” as “frentes de onda” de luz que chegam ao telescópio com computação avançada. Mais detalhes sobre a ÓPTICA ADAPTATIVA requereriam um longo texto apenas sobre esse assunto. Portanto, voltemos ao problema do TAMANHO DAS ESTRELAS.
2. Mesmo atenuando ou mesmo eliminando a TURBULÊNCIA ATAMOSFÉRICA, a RESOLUÇÃO, mesmo de um grande telescópio, ainda é INSUFICIENTE para se determinar diretamente o RAIO da maiori das estrelas distantes. RESOLUÇÃO ANGULAR é a capacidade de se distinguir entre dois pontos muito próximos.
3. Mas, aqui, novamente, a Física vem em nosso socorro e podemos usar a INTERFEROMETRIA, ou seja, podemos COMBINAR a luz de dois ou mais telescópios para colhermos mais detalhes. Dois telescópios separados por uma distância de 300 metros têm quase a mesma resolução que um único telescópio que tivesse 300 m de abertura. MARAVILHA!
4. Mas, ainda assim, o RAIO de MUITO POUCAS ESTRELAS pode ser encontrado a partir de seu TAMANHO ANGULAR e de sua DISTÂNCA.
5. Entretanto, o RAIO de ESTRELAS pode ser também DEDUZIDO e não DIRETAMENTE MEDIDO a partir de sua LUMINOSIDADE e de sua TEMPERATURA. OK? Como?
6. Tomemos logo um exemplo mais simples, no qual se possa determinar o TAMANHO ANGULAR da ESTRELA. É o caso da estrela BETELGEUSE. O tamanho angular do SOL é de 1920 segundos de arco (cerca de meio grau, ou o tamanho de uma unha realizada no comprimento do braço). A maioria das estrelas estão, entretanto, tão longe do SOL que o seu TAMANHO ANGULAR não consegue ser RESOLVIDO, mesmo por grandes telescópios. Eles são indistinguíveis de simples pontos de luz. Entre as poucas estrelas que foram resolvidas está BETELGEUSE. O Telescópio Espacial HUBBLE fez uma imagem DIRETA da estrela BETELGEUSE e essa imagem tem um tamanho angular de apenas 0,125 segundos de arco.
ENTÃO, em um caso FELIZ como este, se o TAMANHO ANGULAR “a” ‘de uma ESTRELA e a DISTÂNCIA “d” até a referida ESTRELA são conhecidos, então o RAIO “R”‘ da citada ESTRELA pode ser calculado por TRIGONOMETRIA.
7. A equação trigonométrica relevante é:
R = tg d (a / 2)
8. Mas, se a ESTRELA estiver tão distante que seu TAMANHO ANGULAR não possa ser RESOLVIDO, como é o caso em geral? Neste caso, a FÍSCA, mais uma vez, vem em nosso SOCORRO. O que seria dos ASTRÔNOMOS sem a FÍSICA?
Nestes casos o RAIO de ESTRELAS pode ser deduzido a partir de sua LUMINOSIDADE e TEMPERATURA.
COMO? Usando um pouco de FÍSICA MODERNA.
Uma estrela é de fisicamente um CORPO NEGRO. CALMA! Eu não estou dizendo que ESTRELAS SEJAM coisas PRETAS, nada disso. Um CORPO NEGRO é um importante CONCEITO na FÍSICA de onde se originou a MECÂNICA QUÂNTICA. Ele absorve e irradia do mesmo modo em equlibrio térmico. Novamente, como eu havia dito antes para a Óptica Adaptativa, explicar em detalhes a Física de um CORPO NEGRO daria um outro longo texto. E esse conheciemnnto deve ser portanto procurado em bons livros introdutórios de Física Moderna. Mas, para o que nos importa, de imediato, sem fugir da raia, a LUMINOSIDADE de um CORPO NEGRO depende da sua TEMPERATURA ABSOLUTA, aquele que é expressa em KELVIN.
9. Então, aqui vão umas “CONTINHAS” para “alegrar os corações”: Considere um metro quadrado da superfície de um corpo negro. A taxa a que ele irradia luz é dada pela equação (maldita falta de um editor de equações no Facebook
10. ENERGIA emitida (E) = uma constante SIGMA vezes a TEMPERATURA ABSOLUTA elevada à quarta potência.
Nesta equação, dita equação de Steffan-Boltzmann. A ENERGIA “E” pode ser tida como a LUMINOSIDADE de um metro quadrado de superfície do corpo negro e a constante representada pela letra grega sigma significa uma constante, que foi medida no laboratório, e “T” é a temperatura da superfície do corpo negro.
Portanto, ao dobrarmos a TEMPERATURA de um CORPO NEGRO, aumentamos a sua LUMINOSIDADE por um factor igual a 2 x 2 x 2 x 2 = 16. OK?
11. Para encontrar a LUMINOSIDADE TOTAL de um CORPO NEGRO, multiplica-se a luminosidade por metro quadrado pelo número de metros quadrados em sua superfície. Uma ESTRELA é bem aproximada por um corpo negro esférico (ÁREA da SUPERFÍCIE = 4 vezes pi vezes R elevado ao quadrado), de modo que a fórmula que dá a LUMINOSIDADE TOTAL de uma estrela é o seguinte (MALDITA falta de um editor de equações ):
L = 4 vezes “Pi” vezes “R” ao quadrado vezes “SIGMA” vezes “T” elevada à quarta potência.
Assim, se sabemos que a LUMINOSIDADE “L” de uma ESTRELA (encontrados a partir de sua INTENSIDADE e sua DISTÂNCIA) e, se determina também a TEMPERATURA “T” de uma ESTRELA (usando a “Lei do Deslocamento de Wien”; outro assunto elementar da Física dos CORPOS NEGROS) , podemos calcular o seu raio “R” .
12. Como EXEMPLO, considere SÍRIUS, a estrela mais brilhante do céu noturno. Ela é na verdade um sistema binário. A mais luminosa das duas estrelas no sistema é chamado Sirius A; a menos luminosa (que só pode ser visto em um grande telescópio) é chamado Sirius B. Vamos examinar as duas estrelas no sistema Sirius individualmente.
Sirius A:
L de Sirius A = 26 L do SOL
T de Sirius A = 10.000 Kelvin = 1,72 T do SOL
R de Sirius A é calculado assim, segundo o explicado acima, como sendo: 1,7 R do SOL
Sirius B:
L de Sirius B = 0,0024 L do SOL
T de Sirius B = 15.000 Kelvin = 2,59 T do SOL.
R de Sirius B é calculado assim, novamente segundo o explicado acima, como sendo: 0,007 R do SOL.
ESSE MESMO MÉTODO se usa para encontrar o TAMANHO de outras estrelas. OK? ENTENDEU? Leu até aqui, mesmo?
Sem MUITA PACIÊNCIA, ATENÇÃO e PERSEVERANÇA (além de alguma “AJUDA” da Natureza na formação do juizo do estudante) não se estuda Astronomia e nem Física.
_________________________________
Comentário no Facebook:
Rafael Bossoni – Fernando, não sei se vale a pena, mas eu lembrei desse curso aqui, talvez fosse legal anexar o link na resposta, caso alguém que se interesse queira se aprofundar no tema: https://www.youtube.com/playlist?list=PLxI8Can9yAHd7kUPviBHxr-49QEl7PRXR
Visualizações entre 27 de maio de 2013 e novembro de 2017: 3357.
Desculpa mesmo fazer esse tipo de comentário. Odeio criticar quem tem boa vontade, principalmente nessa área. Mas o negócio é o seguinte: eu sou entusiasta do assunto, leio muito, já fiz cursos e tal. Eu não entendi nada do que está explicado nessse texto. Minha intenção, ao entrar aqui, era explicar a um colega que duvida de tudo isso como são feitos esses cálculos. Só que o texto é tão vago, que ele vai rir da minha cara se eu mostrar isso pra ele. Esse é o tipo de texto que adoram usar pra dizer: “viu só? Só enganam e não falam nada”.
O que quero dizer é: se era pra ser pra leigos, não funcionou.
Algumas respostas não podem ser dadas com um simples “abanar de mãos”. Talvez este texto te sirva Measuring Stellar Sizes.
Estou fazendo um trabalho (programa de Computador em Pascal)
em que mais me interessa a distancia proporcional da estrela,
por exemplo, sol = uma esfera de 1mm de diametro a 108mm ou
qualquer outra medida: 1metro a 108metros etc;
esse artigo me deu algumas dicas, obrigado.
Laercio
No meu ponto de vista, o texto do Prof. Alexandre deixou uma noção de como é calculado o tamanho das estrelas que estão a grandes distâncias.
Não. A forma de calcular não depende da distância. O resultado é obtido com grande imprecisão, mas é usado para estrelas próximas também.
Texto confuso. Para um título assim tão genérico o texto se limitou a comentar somente o caso de estrelas solitárias ou em sistemas binários não eclipsantes. Esta forma de calcular é bastante imprecisa e só é utilizada para dar uma ordem de grandeza.