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Dúvidas recorrentes sobre tensão, corrente e choque em humanos

Esta postagem é decorrente de uma troca de mensagens com o interlocutor APJ em uma comunidade do Facebook. As dúvidas do APJ são recorrentes e já as encontrei entre meus alunos também. Por isto resolvi transformar o diálogo em uma postagem. A conversa se iniciou quando APJ questionou:

Se a corrente fosse alternada em uma bateria de 12 V, daria choque não é?

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

APJ –  Se a corrente fosse alternada em uma bateria de 12 V, daria choque não é?

Fernando Lang da Silveira –  Não daria também!

APJ –  Mesmo tendo mais de 100 amperes de potência?

Fernando Lang da Silveira –  Queres dizer 100 A em corrente de curto circuito ou de partida! Uma bateria automotiva de 12 V, 48 A.h (como a bateria Moura M48 FD) de produz algumas centenas (300 A) de amperes em corrente de partida, usualmente muito mais do que fontes de tensão alternada usuais.

APJ –  Isso, 12 V e 100 A. Vc. toca os dois polos e então o que acontece?

Fernando Lang da Silveira –  O mesmo que em uma bateria de 12 V e 300 A! Nada aconteceria contigo!  🙂

Fernando Lang da Silveira –  A corrente de uma fonte não depende apenas da fonte mas também da resistência entre seus terminais. Vide as postagens Choque elétrico no corpo humano! Intensidade da corrente elétrica perigosa para humanos.

APJ –  Puxa… Então porque se encostamos no cabo de vela (corrente pulsada que é gerada pela bobina ligada à bateria) dá um senhor choque?

Fernando Lang da Silveira –  Porque ali tens cerca de 30.000 V.

Fernando Lang da Silveira –  O circuito de ignição da vela é de alta tensão (e alta frequência).

APJ –  Esse circuito é só a bobina, platinado e condensador (nos carros antigos), não é?

Fernando Lang da Silveira –  O que se chama de bobina é na verdade constituído por duas bobinas, com um enrolamento com poucas espiras alimentado em baixa tensão (12 V) e o segundo com muitas espiras, gerando então alta tensão (20 a 30 kV).  O platinado interrompia o circuito primário, introduzindo em série um capacitor, produzindo assim corrente alternada no primário mas ainda em baixa tensão. Vide https://en.wikipedia.org/wiki/Induction_coil

Fernando Lang da Silveira –  A bobina de Rumkorff é o fundamento de tais dispositivos.

bobina_rumkorff

APJ –  Muito interessante…parece que também serve para a chamada “solda elétrica””

Fernando Lang da Silveira –  O equipamento de solda é um transformados de BAIXA e NÃO de ALTA como a bobina de Rumkorff. Recebe tensão de centenas de volts e o circuito de solda opera em dezenas volts apenas. O contrário do que acontece na bobina do automóvel!

APJ –  Puxa…como então derrete o eletrodo? Deve ser pela amperagem, certo?

APJ –  Bem, isso explica porque o aparelho de solda elétrica não nos dá choque!

Fernando Lang da Silveira – O que derrete o eletrodo é a alta corrente que somente acontece sob baixíssima resistência.

APJ –  Ué…a resistência do eletrodo é menor que a de nosso corpo?

Fernando Lang da Silveira –  Muitíssimo menor!!! A resistência do nosso corpo, com pele intacta e seca, é da ordem de milhão de ohms e dos eletrodos de milésimo de ohm.

APJ –  Muito obrigado pelas explicações, são dúvidas antigas que eu tinha!

Fernando Lang da Silveira –  É por isto que 12 V usualmente nem nos faz cócegas! 🙂 Entretanto 12 V aplicados diretamente ao interior de nosso corpo, pode gerar correntes perigosas dependendo da região do corpo.

Fernando Lang da Silveira –  Para nós é irrelevante se os 12 V são produzidos por 8 pilhas palitos ou por uma enorme bateria de caminhão ou por um imenso transformador de solda. Quanto ali nos conectados, demandamos uma corrente de cerca de micro ampère independente da fonte.

APJ –  A resistência de um fio de cobre deve ser maior que a de um eletrodo, pois se vc der um curto em uma bateria automotiva o que vai derreter é o chumbo do polo da bateria, e não o fio, certo?

APJ –  Entretanto, usamos o fio de cobre como condutor em nossas instalações

Fernando Lang da Silveira –  É mais baixa a resistência fio do cobre do ue a resistência dos tereminais de chumbo da bateria! A parte que mais aquece é a que tem maior resistência pois está tudo em série e a corrente é a mesma. Por isso o enrolamento de saída do aparelho de solda é um fio muito grosso de cobre. Derrete o eletrodo pois sua resistência é grande comparada com o enrolamento grosso de cobre na saída do soldador.

APJ –  Desculpe se estou confundindo os termos, mas então o eletrodo de solda tem altíssima resistência (e não baixíssima)

Fernando Lang da Silveira –  Altíssima comparada com a do enrolamento do transformador. Baixíssima comparada com a do nosso corpo. Alto e baixo são SEMPRE relativos.

APJ –  É mais complicado do que parece!

Fernando Lang da Silveira – Não é tão complicado para quem entende as relações entre corrente e tensão em circuitos em série.

“Docendo discimus.” (Sêneca)

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5 comentários em “Dúvidas recorrentes sobre tensão, corrente e choque em humanos

  1. José Cláudio leal disse:

    Obrigado boa explicação

  2. Fabio disse:

    Mesmo em contato com a água????

    • Fernando Lang disse:

      Uma tensão de 12V somente seria perigosa se ela fosse aplicada diretamente na parte interna do corpo humano. Por exemplo, em caso de cirurgia com os órgãos internos em contato com algum equipamento eletrificado.
      Vídeos circulando nas redes sociais sobre acidentes elétricos em baixa tensão (12V) são fraudes.

  3. Alexandra Becker disse:

    Se eu encostar nos fios de alta tensão na rua, digo uma mão em cada fio o que pode acontecer comigo? Ou só vai ter problema se eu estiver em uma escada ou no poste que possui contato com o chão?

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