Um terraplanista afirma que os aviões comerciais são movidos a ar comprimido!
19 de novembro, 2018 às 12:09 | Postado em Gás e vapor, Mítica Terra Plana, Termologia, termodinâmica
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Professor Lang
Um terraplanista gaúcho que comenta em vídeos do YT, chamado Roberto …. , afirmou mais de uma vez inspirado em algum vídeo dos negacionistas norte-americanos que os aviões comerciais são movidos a ar comprimido e não a querosene de aviação. Vide abaixo o comentário.
Eu não tenho dúvidas que é uma grande idiotice mas gostaria de ter argumentos simples para refutar o absurdo. O sr. poderia me auxiliar? Agradeço antecipadamente!
A afirmação do terra-chato corrobora que o conteúdo do pacote fideísta da Terra Plana é extenso, passando por diversas formas de negacionismo e de irracionalismo. Usarei esta postagem não apenas para refutar tão absurda afirmação mas também para apresentar alguns conhecimentos relativos aos motores movidos à ar comprimido, os motores pneumáticos.
De fato é possível se usar ar comprimido para mover veículos e tal tem sido feito desde há muito tempo. Um pequeno avião, com asas com 2m de envergadura, com motor pneumático, foi inventado pelo francês Victor Tatin em 1879 conforme vê-se na imagem da figura 1. Um reservatório de ar comprimido a cerca de 20atm propulsionava o motor que acionava as hélices do aeroplano.
A figura 2 mostra uma locomotiva de 1928 a ar comprimido. Seus tanques estocavam 4 metros cúbicos de ar na pressão de cerca de 70atm.
Atualmente os reservatórios de ar comprimido usados para alimentar motores pneumáticos operam com pressões de 300bar (cerca de 300atm). Tais reservatórios são semelhantes aos reservatórios de GNV em automóveis (que operam no Brasil com 220bar).
As tecnologias de ar comprimido estão extensamente tratadas neste longo artigo de revisão: Overview of Compressed Air Energy Storage and Technology Development.
Um conceito importante relacionado com a possibilidade de se obter energia mecânica em motores é o de densidade de energia na substância de operação da máquina. No caso de motores pneumáticos interessa saber o valor da densidade de energia no ar comprimido pois é dele que será extraída a energia mecânica. A densidade de energia no ar comprimido a 300bar (esta densidade cresce com a pressão) é 0,2 megajoules por litro de ar. Nem toda esta energia armazenada pode efetivamente ser convertida em trabalho útil pelo motor pneumático.
As turbinas dos aviões comerciais operam com querosene de aviação cuja densidade de energia é 38,4 megajoules por litro de combustível. Desta forma o querosene de aviação possui 38,4/0,2=192 vezes a energia estocada em igual volume de ar comprimido.
Agora imaginemos que os tanques de um avião Boeing 737 tivesse os seus 26 mil litros de querosene substituídos por igual volume de ar comprimido. Tal substituição, além de exigir tanques muito mais resistentes e pesados dos que os usuais, implicaria em que a energia estocada fosse de 0,2×26000=5200megajoules.
A massa do Boeing 737 em uma decolagem pode chegar a 85000kg. Como a aeronave transita em uma altitude de cerca de 11 km, somente o ganho de energia potencial gravitacional (dada pelo produto da massa pela aceleração da gravidade pela altitude do voo) é 85.000×9,8×11000=9163.000.000joules ou 9163megajoules. Esta é uma subestimativa da energia necessária para realizar a operação pois além de o avião também ganhar energia cinética (da ordem de 1600megajoules considerando que a velocidade seja de 800km/h), há uma grande demanda energética para vencer o arrasto aerodinâmico do ar.
Desta forma fica evidente que a energia armazenada em um volume de ar comprimido igual ao do querosene que cabe nos tanques da aeronave – 5200megajoules – sequer seria suficiente para compensar o ganho de energia potencial gravitacional do avião na decolagem, isto é, 9163megajoules.
As evidências contrárias à ideia absurda de que os aviões voam com a energia advinda de reservatórios de ar comprimido são muitas, começando pela produção e estocagem de grandes volumes de ar comprimido (vide o artigo de revisão indicado acima). Outro aspecto interessante é que a descompressão rápida do ar comprimido causa um abaixamento da temperatura e portanto as “turbinas a ar comprimido na Terra Plana” produziriam um jato gelado. 😉
Mais sobre os exercícios de dissociação cognitiva em prol de um reacionário fideísmo encontram-se em Mítica Terra Plana.
“Docendo discimus.” (Sêneca)
Robertoba passando vergonha em todos os cantos.
Como sempre. Ele submeter-se a um “arrombamento” intelectual.
Esplêndido!
essa acho que ganha o troféu de idiotice do ano. Além do argumento energético tão bem sintetizado no texto do Prof. Lang, o que esses negacionistas tem a dizer sobre o próprio funcionamento visível dos motores a jato? De onde vem o calor, a fumaça, e até a eventual chama emitidas por esses motores? A gente ve isso apenas observando aviões taxiando e operando num aeroporto. Imagino que as únicas pessoas que poderiam acreditar em tal disparate estejam vivendo reclusas e nunca tiveram contato com o mundo real.
também devemos acrescentar o odor de querosene queimado
Esse cara é retardado
O terra-chato que fez as afirmações apenas “rolou a bosta” de outros membros da seita TP nos EUA.
Sem contar a energia necessária para comprimir previamente o ar.
O Roberto com essa pérola já pode fazer parte de um grupo que bosteja na internet chamado de Terra planistas.
Soma se a esse absurdo que ele supôs os demais que são despejados por esses malucos como o colisor de hádrons ser um portal para demônios, os gigantes da Tartaria, Orbes invisíveis sobrenaturais e etc…
Uma verdadeira revoada de pombos.
Esta pérola sequer é da autoria do Roberto. Ele buscou esta besteira em vídeos de terra-chatos do Tio Sam e a reproduziu por aqui. Os vídeos ainda existem!
Trabalhei 20 anos em aviação. Sempre abasteci com querosene (QAV) ou gasolina (AVGAS). Nunca com ar comprimido. A afirmação do Roberto é típica de um idiota que não tem a menor ideia do que esta falando. Uma simples ida a qualquer aeroclube do Brasil teria resolvido a vida dele. Mas pensar é pedir demais.