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Subindo a ladeira ao invés de descer: como se explica?

Professor, se isso algo além de miragem ou truque de câmera ( o que prefiro acreditar), qual explicação nos daria?

Tive minhas intrigas pessoais, conclui, mas me diga a sua: Misteriosa ladeira da Gameleira

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

A pergunta foi postada no Facebbok e por lá ocorreu a seguinte conversa:

Marcos Ribeiro – EM MINHAS ANDANÇAS PELO SERTÃO DE PERNAMBUCO TIVE O PRIVILÉGIO DE TESTEMUNHAR ESTE FENÔMENO….

Fernando Lang da Silveira – O nosso senso interno de verticalidade-horizontalidade pode ser confundido por pistas visuais na paisagem que sugerem uma subida quando na verdade é uma descida. Se a rampa é suficientemente inclinada não há como produzir a ilusão. Mas se a inclinação é pequena, acabamos por avaliar a inclinação sem recurso ao “nosso fio de prumo interno”. Eu estive em BH na Ladeira do Amendoim onde acontece uma ilusão semelhante!

O Mago da Física andou filmando algo semelhante em Portugal.

Samara Lima –  Professor, então quer dizer que isso se deve apenas ao fato de ser um fenômeno visual ?

Ronaldo Matos – Obrigado Professor, é incrível essa capacidade da nossa cognição de criar ambiguidades, ilusões a partir de referenciais padrões.Eu tinha pensando em algo parecido, mas nada resoluto.

Alexandre Medeiros – Na verdade, há uma grande quantidade de ladeiras que produzem tais ilusões de ótica ligadas à percepção do horizonte. Em inglês elas são conhecidas como “gravity roads” ou “magnetic roads”, embora nada tenham a ver com magnetismo. http://math.ucr.edu/home/baez/physics/General/roll-uphill.html

Alexandre Medeiros – Uma ilusão semelhante, mas ainda mais intrigante é a do falso horizonte que faz com que pilotos de aviões errem o pouso de suas aeronaves. http://www.faa.gov/pilots/safety/pilotsafetybrochures/media/spatiald_visillus.pdf

Ronaldo Matos Obrigado –  Alexandre, estou na metade da segundo arquivo, é extremamente interessante e agora sei que útil tal conhecimento.

Ronaldo Matos – Agora a praxe “vivendo e aprendendo”.

Júlio Melo – Já vi isso no truques da mente. O seu cérebro interpreta o terreno como sendo um morro e que o caminhão está subindo, mas na verdade ele está descendo, o programa que mostra a ilusão se chama truques da mente e passa no National Geographic, se não me engano!

Fernando Lang da Silveira-  Interessantes textos Alexandre Medeiros! Há duas semanas discutia sistemas de referência acelerados com os alunos do mestrado profissional e chamava a atenção de que a vertical para os passageiros de um avião muda se ele estiver acelerado. Na decolagem a vertical para os passageiros se inclina, o assoalho do avião nos parece estar inclinado, com a parte mais alta na direção da proa da nave mesmo quando, olhando para fora (olhando para a pista), reconhecemos que o avião ainda não ganhou sustentação suficiente para efetivamente inclinar para cima a proa da nave. Há outros efeitos inerciais evidentes em aviões acelerados, facilmente notados, inclusive quando estão circulando a espera de liberação da pista para pouso. Todos eles tem relação com o célebre experimento mental de Eisntein “O elevador de Einstein”, importante na gênese da Teoria da Relatividade Geral.

Silnara Carlos Sofia – Existe em Portugal, na cidade de Braga o mesmo fenómeno. Eu já lá estive e presenciei. Dizem os peritos que se deve a magnetite ou rocha magnética em grande quantidade. Um carro ligeiro destravado até anda para trás até um certo ponto. Não sei se será o mesmo fenómeno aqui. Aliás, em Braga as pessoas de outras cidades fazem excursões para ir ver o fenómeno. foi assim que eu tb fui… lol

Fernando Lang da Silveira – Nada a ver com magnetismo pois o efeito acontece com água também! Eu testei na Ladeira do Amendoim.

Silnara Carlos Sofia – Então qual será a explicação? Despejando agua no chao ele desce pela estrada abaixo (o que significa que a inclinação é a descer) e o carro pára e anda para trás?

Fernando Lang da Silveira – A água e o carro andam para o mesmo lado! Lê os textos indicados pelo Prof. Alexandre Medeiros e o os meus comentários também.

Amadeu Albino Júnior (Mago da Física) – Veja o que ocorre também nessa ladeira localizada na cidade de Braga em Portugal. E esta que o Prof. Fernando Lang da Silveira cita mais acima. http://www.youtube.com/watch?v=A8CcqHmfyIE

LC Carlos – Em Minas Gerais tem a Ladeira do Amendoim, que parece uma subida, mas não é. Trata-se de uma ilusão de óptica porque as casas foram construídas todas com um prumo inclinado, causando essa falsa impressão.

Fernando Lang da Silveira – Comentei acima sobre a Ladeira do Amendoim! LC Carlos: estivemos juntos visitando a ladeira naquela memorável ida a BH com muitos outros colegas da PUCRS!

LC Carlos – Verdade! Fernando ótima viagem. Velhos tempos de PUCRS!

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Postagem do Prof. Alexandre Medeiros no Facebook em 10/07/2015

Um antigo estudante de Física e atualmente professor do assunto me pergunta se algumas ladeiras que parecem desafiar a gravidade são um caso semelhante ao Duplo Cone.

http://greatstuff.hubpages.com/hub/Magnetic-Hill-or-Magnet-Mountain-or-Gravity-Hill-in-Al-Madinah-Medina-Saudi-Arabia

Minha breve resposta:
Não! Este fenômeno é um outro tipo de ilusão de Óptica MUITO comum em vários lugares do mundo e conhecido indevidamente como “colina magnética” ou “colina gravitacional”.
Há muita coisa escrita sobre isso e o fenômeno se assemelha ao do “falso horizonte” que costuma enganar pilotos de aeronaves ainda inexperientes.

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Postagem do Prof. Alexandre Medeiros no Facebook em 25/05/2023

A CONSTRUÇÃO PSICOLÓGICA da ILUSÃO de ÓPTICA das LADEIRAS “MÁGICAS”
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Um caso típico de PERCEPÇÃO dependente do ÂNGULO DE VISÃO e da identificação do HORIZONTE
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Frequentemente estudantes de Física, ou mesmo curiosos, perguntam sobre COMO podem CARROS subir certas LADEIRAS de forma aparentemente “mágica”, com o MOTOR DESLIGADO e a partir do repouso.
E os exemplos de tais ladeiras “mágicas” são muitos.
Há milhares espalhadas pelo mundo; embora quem as veja pela primeira vez pense que se trata de algo inusitado e realmente mágico.
As duas fotos de LADEIRAS, no presente post, mostram dois diferentes exemplos das mesmas.
Conheço MUITAS delas, como: a famosa “ladeira do amendoim” em Belo Horizonte; a da Serra do Teixeira, na Paraíba, a de São Thomé das Letras e outras mais pelo mundo.
Muitos, ao se depararem com o que, para eles, é um INUSITADO fenômeno; explicam o mesmo ERRADAMENTE afirmando que se trataria de um efeito MAGNÉTICO; que existiria um poderoso IMÃ enterrado em algum lugar. Uma grande TOLICE!
Outros afirmam, também equivocadamente, que o fenômeno em causa seria devido à ATRAÇÃO GRAVITACIONAL. Entretanto, por ser a força gravitacional ainda mais fraca que a força magnética, o nível dessa TOLICE é ainda maior.
Por fim, há também os SABIDINHOS que dizem ser uma ILUSÃO DE ÓPTICA; mas que NÃO explicam COMO essa tal ILUSÃO é produzida.
E dizer que se trata de uma ILUSÃO DE ÓPTICA, mas NÃO EXPLICAR a sua origem é o mesmo que trocar SEIS por MEIA DUZIA.
Alguns ainda tentam avançar em seu arremedo de explicação afirmando que se trata de uma ilusão criada pelo cenário que envolve a ladeira. OK! Isso está certo; mas ainda não explica a quem não entendeu o fenômeno, a FORMA como essa ILUSÃO é mesmo produzida.
– POR QUE o nosso cérebro se engana?
– Então, COMO é?
– Como é mesmo que o cenário que cerca a ladeira influencia na CONSTRUÇÃO dessa ILUSÃO?
– POR QUE aquilo que, NA VERDADE, é um ligeiro DECLIVE nos parece ser um ACLIVE?
– O que e como estaria ILUDINDO o nosso CÉREBRO?
Tudo se dá devido à forma como a PERCEPÇÃO de ACLIVE ou DECLIVE é construída com total, mas pouco reconhecida, dependência do HORIZONTE como referência. Sem ele, ou com ele obstruído, nós ficamos facilmente desorientados quanto à correta PERCEPÇÃO ANGULAR ou da INCLINAÇÃO.
– POR QUE?
– COMO?
A questão é que a FALTA de um HORIZONTE bem definido implica na PERCEPÇÃO equivocada de ÂNGULOS. Um exemplo clássico disso se dá no chamado QUARTO DE AMES; uma ILUSÃO de ÓPTICA propositalmente construída para fazer pessoas aparentemente mudarem de tamanho e cujas figuras elucidativas acompanham este texto.
Observe essas duas figuras com bastante atenção e provavelmente compreenderá o que ocorre para a ILUSÃO seja produzida.
Mas, VOLTEMOS ao caso das LADEIRAS “MÁGICAS” (que de “mágicas” só têm o nome).
– O que tem o QUARTO DE AMES a ver com tais LADEIRAS “MÁGICAS”?
É que em ambos os casos, objetos que normalmente seriam assumidos como estando mais ou menos perpendiculares ao solo (tais como as árvores, no caso das ladeiras “mágicas”) podem estar na verdade INCLINADOS. E estas INCLINAÇÕES não são PERCEBIDAS devido ao nosso ÂNGULO de VISÃO específico do CENÁRIO. É isso que gera a ILUSÃO de falso ACLIVE ou de falso DECLIVE.
– NÃO acredita que o ÂNGULO de OBSERVAÇÃO possa alterar a INCLINAÇÃO dos OBJETOS?
– E MUITO MENOS entende como isso possa interferir na CONSTRUÇÃO MENTAL de FALSOS ACLIVES ou DECLIVES?
– OK!
– Veja atentamente o VÍDEO a seguir e pare o mesmo diversas vezes quando estiver sendo mostrada a MUDANÇA de ÂNGULO de OBSERVAÇÃO e a consequente alteração da PERCEPÇÃO do que é visto como “SUBIR” ou “DESCER”.
– Note o que ocorre com as percepções das INCLINAÇÕES dos PILARES que sustentam a LADEIRA do vídeo e a simultânea e inesperada TRANSFORMAÇÃO PERCEPTIVA de DECLIVE em ACLIVE.
SACOU?

Visualizações entre 27 de maio de 2013 e novembro de 2017: 8802.


4 comentários em “Subindo a ladeira ao invés de descer: como se explica?

  1. Eduardo Vieira Rabello disse:

    Vamos então raciocinar de forma inversa:
    se a “subida” da água em ladeiras são fenômenos visuais ilusórios,
    porque a sua descida em ladeiras “normais” também não poderiam ser – ao menos em alguns casos – idênticos fenômenos visuais ilusórios?
    Ou seja, não é porque a água – ou carro, ou seja lá o que for – segue um trâmite “normal” – em função da gravidade – que este movimento, a despeito de “explicável” pela gravidade, não possa ser considerado igualmente “ilusório”?

    • Fernando Lang disse:

      Será que estás querendo insinuar que a “gravidade não existe”? Se explicares melhor teu questionamento talvez possa responder.

      No caso das ladeiras da postagem, a ilusão pode ser configurada mais precisamente com instrumentos que reconhecem a vertical e a horizontal e por métodos topográficos.

    • Se desconsiderarmos a gravidade, isso pode ser testado usando lasers e reguas de nivel, para ver se um lugar é mais alto que outro ou nao. fizeram isso em algumas dessas ruas que sobem e isso foi o observado

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