QUESTÃO 78 DO ENEM 2012 – Freio ABS
22 de julho, 2013 às 8:23 | Postado em Cinemática, Mecânica, Questões do ENEM, vestibulares, concursos
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/A QUESTÃO 78 se encontra em http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2012/caderno_enem2012_sab_azul.pdf
Os freios ABS são uma importante medida de segurança no trânsito, os quais funcionam para impedir o travamento das rodas do carro quando o sistema de freios é acionado, liberando as rodas quando estão no limiar do deslizamento. Quando as rodas travam, a força de frenagem é governada pelo atrito cinético.
As representações esquemáticas da força de atrito fat entre os pneus e a pista, em função da pressão p aplicada no pedal de freio, para carros sem ABS e com ABS, respectivamente, são:
A QUESTÃO 78 trata da Dinâmica.
Perfeito o tema para uma contextualizaçao de fato!
No comando da questão há uma ressalva quando afirma “liberando as rodas quando estão no limiar do deslizamento”. O correto seria afirmar que libera as rodas quando os sensores já detectam algum deslizamento. Entretanto tal não compromete o comando pois a afirmação é tolerável em face de que se pode (e se deve) sempre idealizar para tornar a situação mais simples, entretanto sem perder a parte essencial do tema.
Outra ressalva sobre o comando é que rigorosamente falta a palavra INTENSIDADE antes de “da força de atrito fat entre os pneus e a pista“.
Quanto ao gráfico da intensidade da força de atrito em função da pressão aplicada PELO pedal do freio ao sistema que comanda a frenagem, a MELHOR alternativa (dadas as idealizações comuns em relação ao atrito) é a da figura que segue.
Rigorosamente este gráfico comporta idealizações, como por exemplo, a de que quando a pressão é nula, o valor da força de atrito é nulo. A resistência ao rolamento impede que assim seja de fato.
De acordo com o gabarito a resposta correta é a alternativa A.
Infelizmente, mais uma vez, NÃO há resposta correta pois o segundo gráfico da alternativa A é inconsistente com o funcionamento do freio ABS. O freio ABS incorpora válvulas que, detectado o deslizamento do pneu, DIMINUI a pressão sobre os freios mesmo que a pressão elevada seja mantida pelo pedal, liberando as rodas para recuperar a situação onde vale o atrito estático. Ou seja, se a pressão exercida pelo pedal do freio ultrapassa o valor p1 no gráfico abaixo, há um abaixamento da pressão diretamente aplicada no freio (pastilhas, disco ou tambor de freio).
Adicionalmente o gráfico dado como correto admite que a pressão no pedal do freio deva continuar aumentando progressivamente para que de novo valha o atrito estático. Ou seja, o motorista é quem comanda o “freio ABS do idealizador da questão” e, se assim fosse, qualquer freio convencional poderia operar como “freio ABS do idealizador da questão” por simples aumento da pressão no pedal! Um verdadeiro absurdo!
Alguns bons motoristas têm suficiente perícia para em, uma situação de forte frenagem sem freio ABS, diminuir um pouco a pressão no pedal para minimizar o deslizamento (de fato o procedimento usual então é o bombeamento sucessivo do pedal, aumentando e diminuindo a pressão). O aumento contínuo da pressão no pedal, como sugerido no gráfico, NÃO acarreta o comportamento descrito pelo gráfico além de p1 para um verdadeiro freio ABS. Por exemplo, o gráfico indica que para uma pressão p2 > p1 haja uma nova mudança de atrito estático para cinético! Isto é um tremendo absurdo!
É importante destacar que NÂO há como representar (é impossível) no gráfico da força de atrito contra a pressão aplicada no pedal de freio (portanto pressão exercida pelo motorista), o comportamento da força de atrito entre os pneus e a pista SIMPLESMENTE porque esta pressão, se ultrapassar o valor indicado como p1 no gráfico deixa de ser a variável relevante pois o sistema ABS passa a atuar, variando convenientemente a pressão de fato exercida nas pastilhas de freio em contato com o disco solidário às rodas.
A ideia de contextualizar usando o freio ABS é excelente mas a “contextualização” esboçada na questão é péssima e equivocada exemplificando concretamente que, contextualizar de fato é complexo, ainda mais quando envolve tecnologias sofisticadas.
NÃO pode ser exigência para o ensino de ciências a “contextualização SEMPRE e a qualquer custo” que permeia TODO o conjunto das 15 questões de Física da prova de Ciências Naturais. O fazer científico, ao longo da sua história, demonstra que mesmo quando as ideias científicas tiveram uma motivação tecnológica, sua concretização foi antecedida de muita TEORIA. Fazer ciência é antes de mais nada se afastar da realidade, idealizar o concreto para depois tentar alcançá-lo parcialmente, de maneira incompleta, falível e corrigível.
Portanto a QUESTÃO 78, que poderia de fato ter sido usada para atingir a contextualização, não possui entre as alternativas oferecidas alguma que licitamente possa ser dada como correta e deveria, portanto, ter sido anulada!
O endereço abaixo acessa a íntegra do estudo realizado sobre as 6 questões de Física na Prova de Ciências da Natureza (2012) com sérios problemas de formulação:
http://www.if.ufrgs.br/~lang/Textos/Quest_Fisica.pdf
O endereço abaixo acessa um estudo comparativo entre o Concurso Vestibular da UFRGS e o ENEM entre 2010 e 2013 demonstrando a precariedade, a fraqueza e a iinconsistência da prova de Redação no ENEM:
http://www.if.ufrgs.br/~lang/Textos/RESULTADOS_UFRGS_ENEM.pdf
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Caro prof. Lang,
O segundo gráfico parece mostrar qualitativamente como a força de atrito mencionada varia com o tempo de acionamento dos freios.
Além disso, penso que quando acionamos o pedal do freio, a força de atrito não atua instantaneamente, mas sim aumenta linearmente até a intensidade que realmente buscamos aplicar (embora tal intervalo de tempo seja, imagino eu, notavelmente curto, de frações de segundo).
Resumindo, podemos “consertar” essa questão se, no eixo das abcissas, trocarmos a pressão exercida no pedal pelo tempo de acionamento dos freios?
O tempo para que ocorra a pressurização de toda a extensão dos dutos de freio até o cilindro que comanda o freio não é desprezível, valendo cerca de 0,2 s conforme discutido em Tempo de reação e frenagem de automóveis .
Talvez este “salvamento tardio” ?? da incompetência do INEP para administrar a feitura de uma prova como esta seja possível. Mas como ficariam os demais distratores (alternativas) então?