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História da astronomia: cinturão de asteroides

Bom dia, professor.

Recentemente li Além do Planeta Silencioso, de C. S. Lewis. Que fique claro para quem esteja lendo que mesmo se passando em outro planeta, não é um livro de ficção científica, eu diria que é uma fantasia espiritual que explora os problemas da natureza humana. Mas por ter sido lançado em 1938 eu fiquei surpreso que naquela época já se sabia da existência do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Talvez seja arrogante da minha parte imaginar que esses corpos não poderiam ter sido descobertos antes de meios digitais, mas eu não consigo pensar como. Talvez, eu presumo, Ceres pudesse ser descoberto por sua interação gravitacional com Marte, mas ele e o cinturão como um todo têm tão pouca massa e estão tão espalhados em suas órbitas que não imagino que tenham sido descobertos assim. Gostaria de um esclarecimento sobre a descoberta deles.

Obrigado pela atenção.

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - IF-UFRGS

Johann Titius,  astrônomo alemão do século XVIII, notou um padrão matemático na distribuição dos planetas,  prevendo a existência de um planeta entre Marte e Júpiter. Astrônomos vasculharam os céus em busca desse corpo desaparecido. Em 1800, 25 astrônomos formaram um grupo conhecido como Polícia Celestial, cada um procurando pelo planeta desaparecido.

A descoberta do primeiro objeto, em 1801, nessa região, denominado Ceres, deve-se  ao astrônomo italiano Giuseppe Piazzi, não pertencente à Polícia Celestial. Um segundo corpo, Palas, foi encontrado em 1802  pelo astrônomo alemão Heinrich Wilhelm Matthias Olbers.

 

Por algum tempo, ambos os objetos foram chamados de planetas. Mas a taxa de descoberta desses objetos aumentou com a observação de Juno e Vesta, sendo que até 1845, data da descoberta de Astreia, os astrônomos não tinham mais dúvidas que estes objetos eram asteroides, fazendo parte de um “cinturão de asteroides” no lugar do “planeta desaparecido” que ficaria entre Marte e Júpiter. Essa coleção de detritos espaciais (cinturão de asteroides) era o “planeta desaparecido”.

Desta forma a descoberta do cinturão de asteroides foi possível graças a uma anomalia no sistema solar (a falta de um planeta) e a observação com telescópios ópticos.

Este episódio da história da ciência demonstra como uma ideia equivocada (a busca do planeta desaparecido) pode resultar em novo conhecimento. Exemplifica, como tantos filósofos da ciência já notaram, que “Todo o nosso conhecimento, inclusive nossas observações, são antecedidas de teoria“.

“Docendo discimus.” (Sêneca)

 

 


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