Choque no extintor de incêndio

9 de setembro, 2015 às 12:17 | Postado em Eletricidade, Eletrostática

Olá professor! Gostaria de questioná-lo a respeito de choques elétricos muito fortes quando trabalhadores apagam metais que sofrem tratamento térmico e saem quentes dos fornos. Como saem ainda queimando, os funcionários utilizam extintores de CO2 e acabam levando choque.Usam botina de borracha porém não adianta! Obrigado!

Pelo que relatas estes choques decorrem de eletricidade estática e se for isso a solução é aterrar o equipamento. A tentativa de isolar os operadores será frustrada necessariamente, acarretando choques mais fortes quando ocorrerem. Tais choques certamente não são letais mas muito incômodos.

Vide uma postagem tratando de tema análogo: Eletrostática: evitando descargas inconvenientes em um aspirador de farinha

“Docendo discimus.” (Sêneca)

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Comentário do Prof. Alexandre Medeiros (UFRPe) sobre o tema:

Apenas complementando, Fernando, vale lembrar que efetivamente no uso prático de um extintor de incêndio de dióxido de carbono, realmente muitos relatam terem sofrido choques eletrostáticos. As pessoas que sentiram esse tal choque descrevem seu efeito como uma sólida pancada no esterno acompanhada de sensações de formigamento que se estendem desde as duas mãos em direção aos dois cotovelos. A intensidade da sensação de formigamento, segundo os que a experimentaram, é semelhante e ligeiramente mais forte do que aquela experimentada quando se leva um choque com corrente elétrica doméstica comum; mas ela diminui após, mais ou menos, cerca de 20 minutos.

A carga eletrotrotática dos extintores aumenta até que possa haver uma descarga para a terra através do corpo daquele que o opera. O excelente isolamento elétrico fornecido pelas botas altas dos operários que costumam usar tais extintores pode aumentar a intensidade do mesmo permitindo que uma tensão elétrica de até 50kV possa se estabelecer sobre os corpos dos empregados que o operem ao longo de alguns segundos de funcionamento do extintor. Nesse ponto, descargas ao longo de toda a superfície exterior de um ou de ambas as botas carregadores pode surgir como mecanismo preferencial de descarga.

Isto tenderia a dissipar o excesso de carga em menos de um microssegundo. Com base na capacitância média dos corpos humanos, um doloroso choque pode ser experimentado em ambos os braços e também ao longo do tronco do corpo enquanto a energia elétrica acumulada é dissipada. Embora a tensão elétrica envolvida no referido fenômeno seja relativamente alta, assim como é a corrente instantânea em um curto-circuito, a referida corrente flui através de todo o corpo por um intervalo de tempo muito breve e que não é suficiente para pôr em risco o coração ou muito menos para ser fatal. Em princípio, esse fenômeno é semelhante aos choques eletrostáticos experienciados em eventos envolvendo correntes menores, como o esfregar de sapatos em um tapete em lugares secos. Uma descarga eletrostática é criada quando um material não condutor sólido, líquido ou gás passa através da tubulação ou de uma mangueira em alta taxa de velocidade; como é o caso que ocorre em um extintor. As propriedades da corneta de plástico isolante contribuem simultaneamente para a carga estática assim como também irá impedir a transferência de calor da sua mão para o CO2. É interessante observar que extintores químicos secos podem causar o mesmo tipo de descarga ao serem descarregados, mas a uma taxa mais reduzida em comparação com extintores de CO2. E isso pode ser previsto pelo posicionamento do CO2 em relação ao plástico da mangueira por onde é descarregado em uma série triboelétrica. O verdadeiro motivo para os diferentes posicionamentos dos diferentes materiais nas séries triboelétricas estão, entretanto relacionados de formas complexas com os mecanismos de trocas de cargas elétricas entre os diferentes materiais atritados e as suas distintas afinidades elétricas.

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