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“ACHAR ÁGUA COM UMA VARINHA MÁGICA” OU A CRENDICE DA “RADIESTESIA”

Há algum fundamento racional para a radiestesia?

Respondido por: Prof. Alexandre Medeiros - UFRPe

Assisti ontem, na TV, a um programa sobre Luiz Gonzaga e sua consciência ambientalista. Em meio às suas belas canções apareceu o problema da SECA e a prática da RADIESTESIA; aquela coisa de que alguns indivíduos do povo, tidos como “sensitivos”, encontram água subterrânea aparentemente apenas munidos com suas “varinhas mágicas”. O que me causou certa irritação foi o aparecimento de um suposto professor de Química dando explicações absurdas sobre o aludido fenômeno; explicações estas baseadas em supostas vibrações magnéticas do planeta Terra que seriam captadas por pessoas sensitivas e coisas assim. Um COLOSSAL DISPARATE, ou antes, de tudo um ATESTADO PÚBLICO DE INCOMPETÊNCIA CIENTÍFICA.
Passemos, portanto, aos fatos sobre o referido fenômeno. E imaginemos que o nosso leitor tenha também assistido ao referido programa e ficado impressionado com o aludido fenômeno místico e desejoso de obter uma explicação convincente para o mesmo. Comecemos, portanto, por dizer do que se trata e construir uma possível conversa com este leitor.
A RADIESTESIA, ou a arte de se encontrar água no subsolo com o simples auxilio de uma varinha, faz parte da cultura popular em vários locais do mundo e relatos de sua antiga prática podem ser encontrados até na Bíblia, na qual é dito que Moisés achou água com o uso do seu cajado.
Claro que nem todo praticante dessa velha arte popular denominada pomposamente de “Radiestesia” é um picareta; muitos são apenas ingênuos que movidos por um conhecimento popular eficaz e subjacente a tal prática (como discutiremos a seguir) acreditam mesmo no que estão fazendo e é forçoso admitir, o fazem com relativo sucesso para espanto geral dos tolos, incautos e inocentes úteis que a testemunham.
Esses indivíduos se dizem “sensitivos” e alguns até passaram a elaborar, mais recentemente, explicações pseudocientíficas para os seus relativos sucessos; explicações essas que são consumidas por incautos que se deixam impressionar com o simples uso de uma terminologia científica aplicada fora de seu real contexto de uso e assim completamente sem sentido.
Vamos, portanto, dividir os radiestesistas em dois campos:
1. os simples picaretas (e eles são a maior parte de tais praticantes);
2. os realmente crédulos que movidos por sorte e por outros conhecimentos práticos bastante úteis guiam sua controvertida prática com relativo sucesso para a admiração dos muitos tolos de plantão.
Deixemos de lado os picaretas e nos concentremos nos crédulos e seus relativos sucessos em encontrar água com o suposto auxílio de suas varinhas mágicas.
Algumas perguntas, neste contexto, merecem a nossa reflexão mais elaborada e imaginemos que o nosso leitor as tenha em mente:
1. Esses “mágicos” populares, ou “radiestesistas”, encontram, mesmo, água no subsolo, como alegam e com relativa frequência?
– A resposta é SIM! Encontram, mesmo e muitos com uma boa frequência de sucessos.
2. Então isso significa que eles estão certos ao alegarem que têm poderes divinos ou sei lá o que para encontrarem água no subsolo?
– A resposta é um sonoro NÃO!
3. Mas, como não? (diria um tolo de plantão). Se eles de fato, encontram água no subsolo não seria isto uma evidência de que eles têm mesmo esse tal alegado “poder espiritual” ou coisa que o valha?
– NÃO! E é preciso dizer, logo de início, que a frequência com que esses “mágicos” encontram, com sucesso, água no subsolo depende de vários fatores. Em primeiro lugar, eles não são tolos de tentar procurar água no deserto. Em alguns lugares, só de olhar o terreno, eles nem tocam em suas “varinhas mágicas”, para não arriscarem as suas reputações de “mágicos” ou de “abençoados” ou outra tolice do mesmo gênero.
4. Em que tipo de terreno eles se recusam a procurar água com suas varinhas?
– Naqueles terrenos em que eles identificam, por sua experiência de vida, claros sinais de falta de água no subsolo, ou dizendo de outra forma, em terrenos nos quais eles NÃO identificam sinais de existência da mesma.
5. E se eles se arriscarem, mesmo assim? A ausência desses tais sinais significa obrigatoriamente a não existência de água no subsolo?
– Vamos por partes! É forçoso admitir que água subterrânea pode, de fato, existir em determinados locais, mesmo na ausência de tais aludidos sinais aparentes; mas, procurá-la nesses locais põe em risco a reputação do praticante da “arte da varinha mágica” e a maioria deles, sabiamente, não se arrisca a fazê-lo. Em outros locais, entretanto, onde leigos não identificam tais sinais eles com grande prazer localizam os pontos a serem perfurados.
6. E que sinais são esses?
– Eles são muitos e variados e todos possuem bom fundamento científico. Em primeiro lugar é preciso dizer que em um local onde haja tais sinais, a probabilidade de se encontrar água em qualquer local a ser perfurado é enorme e tanto faz usar uma varinha como uma moeda ou simplesmente apontar aleatoriamente para um local qualquer do terreno e dizer: “fure aqui que tem água” e a aparente mágica será realizada. Entretanto, mesmo nesses locais, os hábeis localizadores de água conhecem outros sinais de sua vivência prática e do conhecimento popular que lhes garantem um sucesso mais seguro e apontam tais locais para as perfurações.
7. Mas, afinal, que sinais são esses?
Comecemos dizendo que em primeiro lugar só se acha água porque ela está presente em lençóis freáticos e eles estão por toda parte, mas não seguramente em todos os locais. O velho manual do Engenheiro, lançado pela editora Globo nos anos 1960, em seu quinto volume, já trazia vários deles.
Para começo de conversa, sabe-se que a água subterrânea tende a se acumular preferencialmente em FENDAS GEOLÓGICAS subterrâneas e não é por acaso que os grandes rios têm os seus cursos sobre tais fendas. E também não por acaso que em locais onde o terreno não é geologicamente muito antigo, como é no caso do Brasil, tais locais de curso de grandes rios e sobre falhas geológicas ativas são também propícios a terremotos, como ocorre, por exemplo, na China, no Irã e em várias outras localidades pelo mundo.
8. Mas, você quer dizer, então, que os “mágicos” das varinhas conhecem antecipadamente as localizações de tais fendas geológicas?
– Certamente que NÃO! Eles nem devem ter ouvido falar de fendas geológicas; a maior parte tem apenas um conhecimento popular que lhes foi comunicado pela tradição oral; mas o que importa é que a presença de água subterrânea deixa sinais facilmente reconhecíveis na superfície e esses sinais eles conhecem muito bem.
9. Eu já lhe perguntei que sinais são esses. Diga, logo, de uma vez que sinais são esses.
– Bem, a presença de água subterrânea faz com haja uma liberação invisível de vapor que causa, entretanto, o aparecimento perfeitamente visível de NEVOEIROS BAIXOS em manhãs mais frias. Do ponto de vista científico, tais NEVOEIROS BAIXOS são o resultado da CONDENSAÇÃO do VAPOR liberado pelo solo e proveniente da água subterrânea existente naquele local. Não é preciso saber nada a respeito de fendas geológicas para perceber ao longo do tempo e transmitir esse conhecimento à sabedoria popular que em tais locais de nevoeiros baixos geralmente se encontra água subterrânea.
10. Tudo bem! Isso parece fazer sentido; mas, que outros sinais poderiam ser percebidos além desse?
– Um outro sinal da presença de água subterrânea está ligado também a esta mesma liberação invisível de vapor; desta vez não mais à CONDENSAÇÃO do mesmo que só se dá em casos de baixas temperaturas; mas, agora, um sinal presente em dias de temperaturas mais elevadas.
11. E que sinal é esse que se reconhece em dias de temperaturas mais elevadas?
– É a REFRAÇÃO DA LUZ provocada pelo VAPOR TURBULENTO oriundo do solo que causa uma certa TREMULAÇÃO na visão das imagens mais distantes. Você para em um certo local seco e olha em volta ao redor. Se em determinada direção a sua visão de objetos distantes parece mais trêmula isso é um sinal de que está ocorrendo uma refração da luz naquela direção e essa refração é causada possivelmente pela presença de água subterrânea. Vá e ande com sua “varinha mágica” naquela direção. Não precisa saber nada a respeito do fundamento físico da referida tremulação das imagens, não precisa que saiba o que é a refração da luz. Para efeitos práticos, basta saber que na direção em que as imagens tremulam a probabilidade de encontrar água é bem maior. E isso os “mágicos das varinhas de encontrar água” conhecem da sabedoria popular, mas não são burros de contar aos outros para não lhes tirarem o fácil ganha-pão proveniente do dinheiro dos tolos e dos incautos.
12. Há ainda outros sinais aparentes da existência de água subterrânea?
– Sim! Um dos mais simples é procurar a água em regiões mais baixas, encostas de morros, locais para onde água acumulada em encostas escorra mais facilmente. Entre procurar no alto ou em uma vala é preferível procurar em uma vala e a esta procura adicionar outros indícios como aqueles que eu acabei de citar.
13. Mas, ainda tem mais outros sinais que possam guiar o nosso “mágico” da varinha?
– Certamente! Se o local for muito árido, a probabilidade de encontrar água é pequena, mas ainda assim vale a pena procurar identificar a existência de faixas de vegetação verde e fresca em meio à paisagem pardacenta. Isso é um ótimo indício da possível existência de água subterrânea, pois se não há rios ou lagos próximos, de onde aquela vegetação estaria obtendo a sua água, senão do subsolo?
14. Entendi! Mas, ainda existem mais outros sinais para guiar a “varinha mágica”?
– Sim! Mesmo em locais mais áridos, nos quais nem mesmo a vegetação rasteira consegue proliferar, pode ainda assim haver água subterrânea e isso pode ser reconhecido pela presença de sinais deixados nas rochas pela água que por ali passou em tempos remotos e agora pode estar acumulada no subsolo. Mesmo, sendo um local de baixa precipitação pluviométrica (chuvas), ao longo de muito tempo a água pode haver transitado de várias formas pelo local e se acumulado no subsolo.
15. E, neste caso, que sinais seriam estes? Que sinais seriam esses deixados em locais onde nem mais a vegetação rasteira poderia ser mais encontrada?
– Antes de tudo é preciso dizer que em muitos locais áridos não há mesmo água subterrânea; mas se ela existir, poderá ter deixado sinais como a presença de FLUORESCÊNCIAS no solo, locais mais brilhantes que outros. Essas fluorescências sabemos, cientificamente, são causadas pela presença de SAIS DE SÓDIO, POTÁSSIO e MAGNÉSIO no subsolo; podem indicar o transporte de SÍLICA, LIMONITA, LATERITA ou outras concreções calcárias do subsolo. Mas, não é preciso saber desses detalhes geológicos para identificar o brilho diferenciado das rochas e saber, do conhecimento empírico popular que ali pode haver água subterrânea.
16. Entendi! Quer dizer então que munidos de todos esses sinais, conhecidos da sabedoria popular, esses “mágicos” ou “radiestesistas” podem guiar as suas varinhas com sucesso e achar água subterrânea e pegar as suas recompensas. Mas e a varinha? Para que serve, mesmo, a varinha?
– Para nada! Poderia até servir para outras coisas, mas eu não serei maluco de escrever aqui para que ela serviria. Risos… De todo modo, as varinhas exercem um efeito de distrair a atenção dos tolos que atribuem a elas o resultado positivo da mágica, quando esta acontece. Mas, como disse, no início, há aqueles que acreditam mesmo no poder das tais varinhas e tremem as mãos inconscientemente, atribuindo essa tremedeira nervosa e meio histérica a algum poder divino. Mas, mesmo nestes casos, os nossos crentes não deixam de se orientar pelos indícios aparentes da presença de água subterrânea que comentei acima. É um misto de fé com práticas de ocultamento do verdadeiro saber popular que está sendo utilizado; algo semelhante à prática de tomar um remédio eficaz e pedir, ao mesmo tempo, a ajuda de um “santo”. E depois de curado colocar os méritos apenas no santo. Risos …
177. E se morrer ou se não achar água?
– Diz que foi Deus que quis assim e está tudo resolvido. Os ingênuos não costumam discutir com o que eles mesmos chamam de “vontade divina”. Risos …

Um comentário em ““ACHAR ÁGUA COM UMA VARINHA MÁGICA” OU A CRENDICE DA “RADIESTESIA”

  1. Josias disse:

    Caro senhor Alexandre. Meu nome é Josias, sou cientista assim com o senhor, estou terminando meu doutorado em química. Desde criança vi pessoas fazendo isso mas sabia do que se tratava. Quando eu tinha 20 anos, morava em um sítio e meu pai estava sofrendo com falta de agua, ele chamou um senhor que fazia poços e ele prospectou o local e a profundidade onde o meu pai deveria fazer um poço e de fato quando cavamos 5 metros encontramos uma veia de agua, minha incredulidade me deixou muito incomodado com isso. Procurei ver isso com um olhar cientifico e procurei artigos a respeito e hipótese mais provável é de que pessoas como essas são capazes de sentir mudanças no campo gravitacional ou magnético da terra causada por bolsões de agua subterrânea. Realmente não é algo fácil de provar cientificamente por que é necessário cavar para comprovar. Então vamos aos fatos observados: Nenhuma dessas pessoas esta buscando o aquífero, estão buscando pequenas veias de agua que muitas vezes tem menos de uma polegada de diâmetro e que estão fluindo a menos de 12 metros de profundidade, mas são suficientes para abastecer as necessidades hídricas de uma família.
    Ouvi relatos de que pessoas que zombavam dessa capacidade cavaram poços profundos durante semanas e só encontraram terra seca e pedras, depois se renderam a considerar a prospecção feita por alguém experiente e cavaram novamente a poucos metros do local e encontraram agua em quantidade e em menor profundidade.
    Muitas dessas pessoas que prospectam agua são poçeiros, cavam cisternas para sobreviver, ganham pouco dinheiro com isso, arriscam a vida e não querem perder o trabalho de cavar vários metros de profundidade durante dias para não encontrar agua.
    O problema científico: Como comprovar se essas pessoas de fato possuem essa habilidade? Qual o fenômeno físico envolvido? Se é um fenômeno físico, como reproduzir essa capacidade de medida usando equipamentos elétricos ou mecânicos? Como pode uma veia de agua com centímetros de diâmetro ser percebida pelo cérebro de uma pessoa que esta na superfície e afastada horizontalmente. Outra coisa é que pessoas conseguem prospectar o local com uma precisão de menos de um metro, cavando exatamente sobre o local da veia de agua.
    Outro fato observado é que maioria pessoas tentam usar a forquilha e não sentem absolutamente nada enquanto algumas poucas conseguem sentir uma força incomum em seus braços quando estão em determinados locais.
    A minha opinião pessoal, como cientista:
    O imaginário popular credita essa capacidade a habilidades sobrenaturais, mas eu como cientista procurei a resposta com um olhar científico, entretanto até hoje não consegui encontrar uma resposta cientifica convincente, algo que pudesse ser usado para construir um equipamento que reproduza essa habilidade de prospectar agua sem contato. Acredito que não devemos considerar que as pessoas que fazem uso dessa técnica não estão mentindo ou estão tendo sorte em encontrar agua, favorecidas pelo acaso. Eu sei que animais migratórios como baleias e pássaros possuem capacidade para sentir o campo magnético terrestre, tal habilidade é ainda mal compreendida pois não existe um órgão especifico com função de bussola, mas de fato usam tal habilidade para migrarem durante a mudança de estação, mas o ser humano e animais domésticos aparentemente não possuem tal mecanismo no cérebro ou outra parte do corpo. Da mesma forma existem pessoas com tal habilidade de prospecção de agua, mas não conseguimos dissecar o fenômeno.
    Eu testei o uso de forquilha, para minha surpresa e incomodo, consigo afirmar que possuo muita sensibilidade para encontrar agua superficial, consigo encontrar canos de agua e esgoto, fios elétricos enterrados, por mais absurdo que pareça, usando uma forquilha de galho ou um fio se aço com o mesmo formato. Fico muito incomodado com o fato de que não posso expor isso sem ser taxado de malucos, uma vez que não consigo explicar o fenômeno químico, físico ou biológico envolvido. O fato é que a forquilha é objeto mais difundido em todas as culturas, atribuo isso ao fato que há uma maneira correta de segurar, exercendo força, quando me aproximo de um local onde há fluxo de agua sinto um enfraquecimento nos braços e uma leve torção dos punhos que causa a deflexão da forquilha para baixo ou para cima. Acredito que se existe um mecanismo envolvido deve estar no cérebro, que controla o movimento dos punhos, o material da forquilha pouco importa, mas sim o formato e força exercida. Mas realmente não se tem uma comprovação de que tipo contato o cérebro pode estabelecer com a presença de agua ou minerais do solo. Minha observação de pessoas que vivem no campo é de que pessoas experimentam usar forquilha e não sentem nada enquanto outras como eu sentem efeitos bastante proeminentes na força dos punhos.
    Fico muito incomodado, sendo um cientista, esse ainda é um fato que não consigo encontrar explicação, provar que tal capacidade exista ou não sem que isso seja completamente atribuído a pseudociências. De fato algumas pessoas transformaram isso em uma charlatanice tremenda, dizendo usar pêndulos para prever futuro ou outras coisas.
    Eu sei que falta comprovação cientifica para isso, dados qualitativos e quantitativos. Falta quem realmente queira comprovar pelo método cientifico se é verdade ou não. Comprovar se essas pessoas realmente conseguem prospectar seria necessário um terreno, uso de maquinas de perfuração e um grupo de pessoas com e sem tais habilidades de prospecção para realmente provar se isso possui credibilidade ou simplesmente atribuído ao acaso.

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