A forma da Terra e as bolas da FIFA
16 de outubro, 2019 às 10:18 | Postado em Forma da Terra, História da Ciência, Mítica Terra Plana
Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/Caro professor Lang
Hoje assisti no canal Física Marginal do professor Idelfranio, em sua live Quase 24h de Física, a palestra do professor Dulcídio (Física na Veia) sobre a forma da Terra. Ele se referiu ao senhor diversas como o “oráculo da Física”, citando seus textos relativos ao tema. Apresentou um argumento que me impressionou muito relativo a ser a Terra mais próxima de uma esfera do que as bolas da FIFA e lhe atribuiu a autoria. Gostaria que o senhor explicasse mais sobre este argumento.
Aproveito a oportunidade para lhe parabenizar pelo Dia do Professor e lhe dizer que seus artigos são muito inspiradores para todos nós que ensinamos. Um forte abraço.
Fico honrado em ter sido lembrado pelo amigo, Professor Dulcídio Braz Jr. (Física na Veia), como o “oráculo da Física”. O professor Dulcídio é muito bondoso e esta referência também fica por conta da nossa amizade e das informações que tantas vezes trocamos, apesar de não nos conhecermos pessoalmente.
O conhecimento sobre a forma da Terra tem sido constantemente aprimorado em 25 séculos de história. Desde os Antigos Gregos sabemos que a Terra é (quase) esférica e já na Antiguidade houve diversas determinações do diâmetro de nosso planeta. A mais famosa determinação é a da Eratóstenes. Vide a postagem CREF1.
No século XVII Isaac Newton (1643-1727) predisse teoricamente que a Terra é um esferoide oblato. Ele previu que o semi-diâmetro (raio) polar da Terra fosse um pouco menor do que semi-diâmetro equatorial em cerca de 17 milhas ou 26 km. A previsão é encontrada no livro III – intitulado The System of the World – da sua célebre obra Principia (1686). Na década seguinte à morte de Newton as Expedições Geodésicas Francesas (1736-1745) mediram o achatamento polar da Terra, resultando em que a diferença entre os dois semi-diâmetros fosse 33 km. Hoje sabemos ser menor ainda, cerca de 21 km. Vide a postagem CREF2.
Esta diferença de 21 km entre os raios equatorial e polar, dado que o raio médio da Terra é 6370 km, representa 21/6370=0,003=0,3% do raio médio. Por coincidência a diferença máxima no relevo da Terra, eliminada a cobertura dos oceanos, é também cerca de 20 km pois o pico do Himalaia se localiza a 10 km acima do nível do mar e o fundo da Fossa das Marianas a 10 km abaixo do nível do mar. Portanto, ao irregularidades por relevo e por achatamento na superfície da Terra perfazem 0,3% do seu raio médio.
As bolas da FIFA podem no máximo apresentar uma diferença de 1,5% entre seus diâmetros máximo e mínimo. Vide A bola de futebol é mesmo um esférico?
Portanto a Terra se afasta menos de ter a forma esférica do que os quase perfeitos “esféricos” utilizados pela FIFA. Os esferoides que reconhecemos no nosso cotidiano (balões, bolas, …) apresentam desvios da esfericidade maiores do que nosso planeta. Vide também CREF3.
A fotografia de 1972 – THE BLUE MARBLE – na figura 1 corrobora a quase esfericidade da Terra.
Em 1969 a sonda soviética Zond 7 também obteve mais de 30 fotografias espetaculares da Terra vista da Lua. A figura 2 é uma dessas fotos.
Outras postagens relacionadas com o tema: Forma da Terra.
Artigo disponível no Research Gate: Sobre a forma da Terra.
“Docendo discimus.” (Sêneca)
Lang na sua esférica perfeição!
Nada se duvida se trataram o senhor de oráculo da física em nossos tempos
Frank Gonga
Luanda/Angola
Nada se duvida se trataram o senhor de oráculo da Física em nossos tempos , em 2014 utilizei alguns dos escritos do Professor Lang em um trabalho de Licenciatura ? nessa digníssima disciplina
Obrigado Génio da Física Brasileira
Frank Gonga
Luanda/Angola
Muito bom, professor!
Me gustó mucho tu artículo, felicitaciones. Gran sitio, gran contenido. 8642361