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Composição dos gases no ar poluído do centro da cidade

Professor, o senhor comentou sobre esse assunto em uma aula e fiquei me questionando sobre o assunto.

O senhor disse que a quantidade de gás carbônico em cidades extremamentes poluídas era muito pequena. Com essa afirmação eu posso entender que as ações humanas, em relação ao meio ambiente, são ínfimas para causar um dano maior ao planeta?

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

Boa pergunta!!!

Relatei em aula que há alguns anos assistia um programa de televisão onde um concorrente respondia perguntas com o objetivo de chegar a um prêmio final de alto valor monetário.

O rapaz parecia ser culto e estava se saindo muito bem até que apareceu uma pergunta que julguei não teria sucesso, que certamente erraria. A pergunta era a seguinte:

No centro de uma cidade poluída como São Paulo, o gás presente em maior proporção no ar é:

A) Nitrogênio

B) Oxigênio

C) Argônio

D) Gás carbônico

Antecipei que o sujeito ia errar a resposta pois possivelmente não tinha feito Física 3, ou se tivesse feito, já tinha esquecido! 😉

E não deu outra! Ele optou por gás carbônico.

A composição do ar SECO na atmosfera que respiramos é SEMPRE cerca de 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio, 0,9% de argônio (a Figura 1 detalha a composição do ar seco). No que falta para completar 100% da composição do ar encontra-se mais de 10 gases diversos, onde o dióxido de carbono comparece com menos de 1000 partes por milhão.

E esta resposta é a mesma no centro de São Paulo ou em um lugar sem poluição ainda que a proporção de gás carbônico varie.

Apesar de ser pequena a quantidade de gás carbônico na composição da atmosfera do planeta (em média cerca 400 partes por milhão atualmente) ela vem aumentando. A menos de 3 séculos atrás a concentração era menor do que 300 partes por milhão.

No centro de uma cidade como São Paulo a presença de gás carbônico pode atingir níveis elevados. Mas mesmo estes níveis elevados, por exemplo, 10.000 partes por milhão, não altera o fato de que a atmosfera continua sendo constituída principalmente por cerca de 78% de nitrogênio.

A poluição decorrente das ações humanas não se reduz ao aumento de gás carbônico na atmosfera, envolvendo toda uma ampla variedade de poluentes, inclusive particulados, isto é, partículas muito maiores do que as moléculas, responsáveis por aquela névoa que paira, por exemplo, sobre São Paulo.  Portanto, como a poluição atmosférica é muito mais ampla do que apenas um aumento de gás carbõnico na composição do ar, NÃO se pode tirar a conclusão que propuseste.

Finalmente cabe ainda uma consideração sobre a presença de vapor de água no ar pois acima foi referido ar SECO. Ele pode representar uma proporção de até cerca de 4% da composição do ar em ambientes úmidos e quentes. A proporção de vapor de água no ar SATURADO depende da temperatura; para maiores detalhes vide Umidade relativa: o que é e como se determina? e Umidade relativa versus umidade absoluta.

Sobre o efeito estufa: Aquecimento da atmosfera terrestre por efeito estufa.

“Docendo discimus.” (Sêneca)

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Comentário do Prof. Renato Machado de Brito (Escola de Engenharia – UFRGS)

Caro Fernando
Achei interessante a pergunta e também a tua inteligente resposta.
Existe um grande confusão do que seja Poluição do Ar.

As pessoas de um modo geral lembram do CO2 porque isso é muito batido. O pessoal esquece a emissão de particulados, principalmente de resíduos da descarga de automóveis, ônibus e caminhões, mais os resíduos poeirentos das indústrias, das residências,gases dos  lixões,etc.

Quando a gente anda em S. Paulo, sente-se ardência nos olhos e um cheiro de combustível queimado no ar.Além do que o sol nem consegue  penetrar na cidade devido ao “toldo” de partículas que se forma na região (ao chegar de avião num dia ensolarado se vê perfeitamente uma nuvem rósea cizenta flutuando sobre o espaço aéreo que encobre S. Paulo).

Para entender mais sobre a concentração,talvez fosse interessante falar que, se considerares um volume de ar finito, onde se adiciona CO2 a concentração pode ser mortal (numa garagem com o carro ligado por exemplo). Num ambiente aberto com a composição do nosso ar atmosférico repleto de Nitrogênio, Oxigênio e outros gases a concentração de CO2 nem consegue ser medida em valores percentuais comparáveis a dos outros dois gases, então comumente ela é medida em ppm.

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Esclarecimento do Prof. Sebastián Gonçalves sobre o Comentário do Prof. Brito

Esclarecimentodo  Prof. Sebastian Gonçalves (IF-UFRGS) a respeito do  Comentário do Prof. Renato Machado de Brito


“… se considerares um volume de ar finito, onde se adiciona CO2 a concentração pode ser mortal (numa garagem com o carro ligado por exemplo).”

O Prof. Renato deve ter querido se referir ao CO (monóxido de carbono) e não ao CO2 (dióxido de carbono ou gás carbônico).

O CO2 que foi o que motivou a pergunta inicial, não apresenta riscos a saúde humana (ou de animais). Pelo contrário, ele é essencial à vida no planeta através da fotossíntese.
Entretanto, e como já mencionou o Prof. Fernando, o aumento de mais de 40% na concentração atmosférica do mesmo como resultado da atividade industrial dos últimos 200 anos, via queima de combustíveis fósseis, está diretamente correlacionada com o aumento gradual da temperatura media da superfície terrestre. Ou seja o CO2 é vital mas uma perda do equilíbrio na concentração do mesmo pode ter efeitos catastróficos para a vida na Terra.

Por outro lado. o CO é resultado da combustão incompleta de material orgânico pela insuficiência de oxigênio, como acontece em algum grau no funcionamento de motores de combustão.
Este gás sim é venenoso pois inalado interfere no transporte de oxigênio no sangue tendo efeitos variados
nos humanos dependo da concentração e tempo de inalação.
Mas de forma geral ele é perigoso desde concentrações de 100ppm, onde pode produzir dor de cabeça,
até ~13000ppm onde mata em menos de 3′.
O CO é tristemente célebre por ter sido usado pelos nazistas para matar prisioneiros em caminhões, conectando o escapamento para dentro da caçamba fechada do mesmo, e em algumas cameras dos campos de concentração.

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5 comentários em “Composição dos gases no ar poluído do centro da cidade

  1. José Flores disse:

    Gostaria de saber se tem algum estudo que possamos ter acesso sobre os índices de oxigenio no ar de várias cidades, os índices de oxigenio são maiores no mar ou na serra, já li estudos que mostram que a fotossíntese produzidas por algas marinhas são maiores que a produzidas pelas florestas no mundo. É verdade?

  2. Pedro Dardengo Mesquita disse:

    Além disso, vale salientar que o fato de o gás carbônico ser uma pequena fracção da composição da atmosfera isso NÃO significa que a influência dele no clima seja pequena, como o criador da pergunta sugere.

    A influência do gás carbônico presente na atmosfera no clima da terra é real e não negligenciável!!!

    Essa “pequena” quantidade se multiplicada por pequenos fatores pode acarretar mudanças reais no clima, obviamente o efeito principal é o aumento da intensidade do efeito estufa já que as moléculas de CO2 tem energias de modos vibracionais na faixa de energia do infra vermelho.
    Mas há tambpem EFEITOS SECUNDÁRIOS gerados por feedbacks positivos do aumento de temperatura e dos níveis de CO2: um exemplo é a acidificação dos oceanos, menor solubilidade gases na agua marinhas etc

  3. Paulo RT Capra disse:

    Estranho muito a falta de dados atualizados sobre a composição do ar nas grandes cidades principalmente.
    Li alguns artigos sobre o efeito do oxigênio que respiramos no PH do sangue, dando conta que o mais importante regulador do PH se dá através da respiração.
    E outro aspecto sobre o qual se fala muito pouco para não dizer nada é com relação a carga iônica do ar.
    Nas grandes cidades ela é positiva e seu efeito no organismo extremamente negativo.
    Temos muito ainda a estudar sobre isto.

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