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Termômetro infravermelho: mau uso nas medidas da temperatura corporal!

Caro professor Lang

Inicialmente parabéns pela live de ontem no canal do Prof. Helio Dias.

Fiquei apreensivo com suas considerações sobre o mau uso dos termômetros infravermelhos na entradas dos estabelecimentos comerciais. O senhor poderia escrever sobre o tema aqui para deixá-lo registrado?  Antecipo agradecimento.

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

Aos 40min da live Temas instigantes de Física discutimos sobre o mau uso dos termômetros de infravermelho na avaliação da temperatura corporal em entradas de shoppings, lojas, etc.

A postagem do CREF que tratou desse tema é: Notícia falsa: o laser infravermelho do termômetro faz mal!

Considero necessário enfatizar aqui que:

1 – O laser vermelho, de baixa intensidade, que existe nesses termômetros infravermelhos apenas serve para sinalizar a região em torno da qual a radiação infravermelha emitida pela superfície de interesse está chegando ao termômetro.

2 – O laser vermelho não tem poder de penetração no objeto ou mesmo no corpo humano. É apenas luz que será parcialmente absorvida na superfície do corpo (pele) e parcialmente refletida.

3 – O laser pode ser desligado e a medida será realizada da mesma forma. O desligamento do laser entretanto impossibilita saber com precisão qual é a região monitorada mas nada afeta no processo de detecção da radiação infravermelha.

4 – O funcionamento desses termômetros não envolve emissão por ele de qualquer forma de radiação. O termômetro apenas analisa a radiação infravermelha (radiação térmica) emitida pela superfície de interesse que neste caso é a pele do sujeito monitorado.

5 – O lugar adequado para a medida da temperatura corporal é a testa das pessoas conforme está nos manuais desse tipo de termômetro (por exemplo Termômetro Incoterm).

A temperatura da pele do pulso das pessoas é cerca de 3°C inferior a da testa e portanto o pulso não serve para detectar estado febril.  Não é para menos que mamães e vovós avaliam a febre   tocando com a mão a testa das crianças, evitando o pulso ou outras regiões notoriamente mais frias do corpo humano.

6 – Não é qualquer termômetro infravermelho que serve para avaliação da temperatura corporal. Os termômetros infravermelhos usualmente usados para outros fins, que operam em largo espectro de temperatura, possuem sensibilidade insuficiente para medir com a precisão necessária para a detecção do estado febril de humanos.

E agora a minha opinião: 

Os monitoramentos de temperatura em entradas de shoppings, lojas, etc apenas servem como um simulacro de que medidas sanitárias estão sendo tomadas. Além de essas “medidas”, realizadas de forma inadequada, serem inócuas para a detecção de estados febris, seja por causa da utilização de termômetros inapropriados ou por aferição da temperatura do pulso ao invés da testa, produzem apenas uma sensação de segurança (falsa!) para os frequentadores desses locais.

Um colega relatou que tendo percebido que a medida no pulso de alguém havia sido 32°C, disse à pessoa que fazia a medida: “Bah, apenas 32°C!” A pessoa lhe respondeu: “Não vi!”, caracterizando muito bem que o procedimento era um fingimento.

Adicionalmente é por demais sabido que pessoas podem ser transmissoras do vírus sem apresentar sintomas.

Vídeo sobre o tema: A UTILIZAÇÃO INADEQUADA DOS TERMÔMETROS INFRAVERMELHOS NA DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL

“Docendo discimus.” (Sêneca)

 


4 comentários em “Termômetro infravermelho: mau uso nas medidas da temperatura corporal!

  1. CLAUDIO MANOEL GOMES DE SOUSA disse:

    Excelente análise Lang. Concordo principalmente quando você diz que as medidas são um “simulacro” apenas para legitimar a liberação descontrolada do comércio. Nada seria melhor que o isolamento!

  2. Giovani Carvalho Albé disse:

    Parabéns pelo texto! Claramente se observa uma confiança excessiva em um sistema de detecção inseguro.

  3. Karl Frank disse:

    Caro professor, tenho aqui um tema que merece sua atenção. Ainda há poucos anos no jornal da Igreja Universal um empulhador repete a propaganda de um dispositivo que sendo montado entre a bobina de ignição do automóvel e o distribuidor “potencializa a faísca”, aumentando a potência do motor e sua economia. O cabo está dotado de um cilindro cor de laranja de aproximadamente 25 mm de diâmetro por 30 mm de altura. O mistério se esclarece pelas explicações do folheto que acompanha o engodo: trata-se de um “ionizador de elétrons”. Algo surreal, como este equipamento supera a pesquisa nuclear mais avançada… O senhor conhece a propaganda? Atualmente não está sendo veiculada mais.

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