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Dúvida sobre descarga em eletrostática e em tensão alternada

Boa tarde, prof.
Vi vária postagens sobre o assunto no CREF, mas nenhuma sanou minha dúvida.
Vejamos: Em eletrostática, se um corpo eletricamente carregado entra em contato com outro eletricamente neutro, haverá corrente elétrica no sentido de igualar as cargas. Ou seja, há uma diferença de potencial entre os corpos.
Como exemplo, podemos citar uma pessoa que toma choque ao tocar na maçaneta do carro, quando um ou outro está carregado, mesmo que que esta pessoa esteja usando calçado isolante.
Pois bem, quando uma pessoa encosta na fase de uma rede elétrica, supondo que ela esteja com calçado isolante, ela não tomará choque (a não ser que que feche um circuito).
Ora, a pessoa está num potencial diferente do potencial da rede elétrica (220 V, suponhamos). Semelhante à situação eletrostática, onde tínhamos dois corpos com cargas diferentes, não deveria haver uma corrente elétrica entre esses dois corpos (a fase da rede elétrica e a pessoa) até que ambos atinjam o mesmo potencial?
Desde já, agradeço pela atenção!

Respondido por: Prof. Fernando Lang da Silveira - www.if.ufrgs.br/~lang/

No caso eletrostático do automóvel carregado e a pessoa (mesmo isolada da terra) em suas proximidades há uma enorme diferença de potencial elétrico (ddp) inicial entre a maçaneta da porta e o corpo da pessoa. A ddp é tão alta que mesmo antes de tocar a maçaneta, quando a mão do sujeito se encontra a muitos milímetros de distância da maçaneta, pode acontecer uma centelha elétrica através do ar. Cada milímetro de centelha através do ar implica em uma ddp  de cerca de 3 mil volts. Desta forma a ddp incial envolvida neste processo pode chegar facilmente a mais de 10 mil volts!

Desta forma o sujeito recebe um choque  envolvendo uma corrente grande inicialmente mas que se extingue rapidamente. Ou seja, há somente um breve pulso de corrente e ele sente uma “beliscada” apenas, que pode ser desconfortável mas não oferece maiores perigos. Vide também Descarga elétrica através do ar NÃO é consequente do arrancamento de elétrons dos eletrodos!

Quando este mesmo sujeito, isolado da terra, tocar um fio eletrificado a  220 V alternados, também haverá uma corrente (corrente alternada) no sujeito, mas a corrente eficaz será muito menor do que  a corrente incial no caso elestrostático já que a ddp é muito menor do que na situação anterior. A corrente alternada perdurará no sujeito enquanto estiver em contato com o fio mas como é muito pequena, lhe passará desapercebida.

Um bom modelo para tratar desta segunda situação, quando o sujeito está isolado da terra, é a de um capacitor de baixíssima capacitância alimentado com tensão alternada. Dado que a capacitância do sujeito é da ordem de picofarad, a sua reatância capacitiva em 60 Hz é muitíssimo alta, da ordem de gigahoms.  Então a corrente eficaz sob 220 V no sujeito é inferior a microampère, suficientemente baixa para não produzir efeitos fisiológicos importantes e perceptíveis.

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